O corpo sobre a lâmina
Ó césares ó heróis das sâncristas batalhas,
sobreviventes do assédio dos
deuses e das eras,
caros generais que amontoais jóias
e medalhas
e julgais escravos os homens assim
como as feras!
Ó prisioneiros das cinzas de Tróia
e da Criméia
Omã Canaã Vietnã um
c
o
r
p
o
bóia
podres com
a fruta
que boiar
não pôde e seu
c a
r o
ç
o
Como fontes revividas de um pacto,
Há de existir vossos cismas
entorpecidos.
Quando os ventos me levarem,
Há de existir o trauma e um néctar
meu configurado;
a
do i
ó
cais ao p o azul b
solto (nu
o
r m
t o r
o t
o)
dos pés ao rosto.
O poema está morto
Não há vida vírgula
A vida vírgula
* vida ,
A vida está gasta
E frívola nos parêntesis.
Informa-se no morto
Qual sombra rediviva
Quando fita a si
A penetrar fundo em sua atitude de
não-vida,
De vinda e de ida pacífica.
Porque a vida dentro da vírgula
Do outro não é sopro que finaliza
ou fim que se espicha.
É nuvem sobeja — que se faz a
gosto —
Sugere formas anêmicas ou
encardidas.
Traz o azul
À face do oceano posta
E de mais azul a mímica morta
se enforca.
O que me importa
Se esse corpo não me conforta!
Ó caros generais que juntais corpos e medalhas
E doais em porções o medo,
Com
que balas
\
brinquedo amordaçais
a boca do homem
à sua fome?
A vida se desgasta
em poucas palavras
a roer cemitérios:
o minério da boca que estrume.
Será de química seu vocábulo,
sua tabuada infinda,
película árida,
anverso, infensa?
Caros generais que na ressurreição
dos ossos
Vos vangloriais dos destroços que
impingis
com vossos fuzis,
barris de pólvora,
cólera fundida
em carne e cinza,
semeando pedras.
Banis, enfim, o amor ao desterro.
Assegura-se-vos a definitiva aniquilação,
Não da vida, esta que decompúnheis
E flagelais entre explosões e
vitórias
Que se perderão no tempo como
crianças.
Que dia morte e vida se fundirão
No porto seguro do nada de cada
coisa fragmentada,
de cada fragmento
fracionado,
de cada fração
indimensionada!
Caros generais,
essas poucas palavras,
letras-balas guerreadas,
Consumirão
cadáveres-cartucho-munição ( ) ( ) ( )
(Aves saída da vida
Revoarão perpétua paz
Sem reino e sem casa):
Morto nunca estarei de mim;
Porque sairei de mim (?)
Sem identidade e não estarei perfeito,
completo como o nada,
sob as erguidas pás
com que se escavarão meus
versos!
Conexão.
Rotas, rostos virão,
Caros generais,
que não podereis impedir-lhes a
ação.
E explodirão bombas todas as
pa!la!vras!
mastigadas ou não!
Assim,
Essa inércia de carne e de sol
que impregna a face posta ao calor
que me habita as
chagas,
me esvazia,
Arqueando-me os ombros
e pro sangue jorrando
em direção ao
nordeste de mim,
que, a se tombado
como uma pedra veias trafegando,
me emperra.
Às mãos, que o corpo em pernas
Conduz-me, rumo.
Porém
A carne, ao chão de si mesma
exposta,
Busca uma resposta
No corpo dessa tarde minha viga,
Que nem minha poesia cimenta.
Pergunto aos céus
porque a noite se oculta,
Perdida no Tao,
Tal e qual a vida:
Com que olhos estranhos
Acorrentamos este instante
ga
Cha
ma
A esta cal,
A esta lápide de versos, de gente
em abandono?
Com lábios de argila
Exércitos de palavras
Dominarão
as
árvores,
Libertarão os bichos da
inconsciência da carne,
Do
irrealismo
da
fala
E invadirão as pedras
Que habitam almas e corações
humanos.
Entre ódio e esperma
A multidão observa.
Entre a noite e o poema
Minha mão tranqüiliza.
Há muito tenho sido
Das feras alimento;
Dos loucos, o tino.
Como um fosso aberto aos
sofrimentos,
Um eco, a teia, o rio e a cheia.
Caros generais,
Vossos corações casamatas
Sitiam nossos ri-S. O. S.
Como faca ferem e na carne vivem.
À faca me invadis o peito,
Que se atraca no gemido.
Tristes vos contorceis
Sob o falo da morte,
Roxos como um corte.
Assim, disperso, revivo, sem glórias,
Um acalento perdido no universo.
Cerrado, às vezes, em lágrimas
ocultas,
Fico a contemplar perpétuo o
infinito.
Por um momento, só nos restam
sombras.
Espanto-me, me torturo!
No entanto,
há no mundo uma glória
Que de amor se faz
E há muito me quer insano.
Resoluto a nós, animais,
Inconsulto em nossos sonhos,
Despido de tudo o que pomos,
Nas artes de nossos ancestrais.
...Vínheis do mar, da feras,
Das ações, de um sol entre
milhões.
Mas não é de vós que saio
ciclo
salso
Salvo-me de mim, generais;
De vós, jamais.
Não há obscuro em que se encerre
À verdade, talvez oculta e
inteligível.
Mas, como há morte perante a vida,
Liberto-me do hoje e de sua
fadiga,
Do sono além, da carne aquém
(medonhos).
Rumo às vozes
Que o medo interrompe sob está
fonte:
Guardo-me segredo em seus
esconderijos.
Pois não será o caminho... a rota
e o fato.
Nem serão as ilusões logradas pelo
desejo,
Porém a consumação de legiões que
tardarão.
Seguirei as estrelas, suas luzes-teias
Que atam-me ao que sou:
Aprendi a fazer casas de mim: a
mim residir.
Construir sentimento tijolo por
tijolo.
Seguir soldado por entre
armadilhas.
Ó caros generais que o céu, a
terra, tudo ides amaldiçoando!
Hoje caminho só, porque se aprende
a facear a parte oculta.
A fachear a vida imersa nessa dor
de ser vivente
Às portas de um mundo de algozes.
Talvez termine o passageiro dia
E não haja mais sedimentos de
existências,
E um pouco de todos os mortos
carregue comigo,
E a carne espalhe pelo chão
O dia camuflado de esperança:
Talvez seja oportuno decantar a
vida
E invocar dela um suspiro de
exaltação.
Mas que os carrascos do sono
Estejam todos exangues!
Não resumirei a multiplicidade das
coisas.
Preciso, e é urgente,
Versos alados e caducos
Nessa porção imaginária de chão
Onde guardarei tudo que me é
humano,
Que me é invisível.
Ó caros generais que tínheis a
ponta firme do chicote
E comandais os fantoches da morte!
Ressurjo à vida
Do susto desta cantiga,
Do luto desse lugar ...
Por vezes, obscuro.
Não cuidei aparta-vos de mim,
Mas de o sono profundo que vos
libertou
Da vida que se pede no esforço
Que se perde no cansaço.
Não da do fraco, mas da
do que se tornou em fracasso.
Receio à mão que me seja dada:
Não dela, a bofetada;
Da afagada, porém.
Pois as mãos que às minhas mãos
convém
Nunca das minhas estarão
sossegadas.
Receio à morte o dia nos lajedos
Das alamedas frias.
E de vós, tudo; e do mundo,
desertar.
Pois o poema voa paisagens,
Que nos sonhos, não raro, somem.
Tem o gozo de sua vadiagem
E o zelo dos meus olhos de homem.
A poesia fechou-se no sótão
E nas mãos (às que temem os carrascos).
Lá... há feras que não se mostram.
E hojes e ontens: bens exatos.
Ó caros generais que espalhais
vossas façanhas
Medonhas e conspirais com o medo
A vida ao degredo!
Navegador de ócios, guetos e pântanos,
Navegante de recônditas naus,
O meu já lançado espanto
Me ponteia a carne azeviche,
As glórias e as derrotas:
Gestos perdidos nas mãos dos
homens.
..............................................................
Amanhã acordarei em translúcidas percepções
—E o que foi verdade
E busca da figuração divina,
Aos poucos não o sentirei em vida.
Mas meu corpo flutuará na noite
De um mar de sombras
Subterrâneas:
Poço sem fundo,
Peito pesando a chumbo.
Em vossos registros valham meus desenganos!
Zelai por tudo o que restou,
Pois sei que nada medraria
Meu derradeiro sono, a defasagem
de vós,
Espíritos troianos:
Não cantarei vossos cantos.
Porque anaeróbica a vida de vós
brota.
A terra vos cospe: e toda a terra é posse!
Ó caros generais que para além de vós
Avistais apenas o escuro mercúrio
que jorra
De vossos corações miúdos, sem
rumo,
Sem asas para o futuro,
Através do breu cuneiforme do meu
verso!
Meu rifle é de plástico mas meu
ócio arranha!
A cama é palha, o silêncio é manco
e buliçoso.
E, nessa insurreição, encho minhas mãos
Do fosco badalar dos sinos.
Nasço e renasço em meus próprios
braços
Mortos de solidão!
Em todos os barros pedaços
Desse chão de poeira e mofo,
Me acho posto nesses espaços
Que abris como vulcão...
A carne é suada,
Levada a toque de boiada,
Dobrada por todos os sinos.
Dizei, generais, se em verdade
vida e morte
Eternizam a lembrança:
Importaria se nem tudo fosse
compreensível
—Ainda tudo seria possível?
Não mingueis o mundo: o mundo já é
minguado.
E enquanto distraio morte e
inimigo,
Com sorte, ainda venho comigo.
Que quando eu partir,
Quero estar convicto
De aqui ter sido o melhor
Lugar para ter-me visto.
Não sei se posso edificientíssimo
nisto crer!
Espalhais por todas as joças e
lugares pérfidos
Vossas espadas.
Cavalheiros do futuro, montais às
barbas
Do passado, ainda mais temíveis.
Porém não há o que ter...
Não há que ter medo.
Mas não me quereis em vossas
sempiternas vitórias!
O sonho é a melhor propaganda.
O verso é meu,
A rima é minha e, se houver,
A poesia também.