Dez anos de poesia, cinco livros e um ritmo próprio definem Álvaro
Pacheco como um poeta que "na era do homem de acrílico continua
a emitir sinais luminosos e confortadores", como definiu o imenso
e insuspeito Carlos Drummond de Andrade na abertura do novo livro de Pacheco,
"A Força Humana". Não acabou a poesia nem o lirismo
a deixou ao desamparo, ou não existiria um momento de lúcida
poética como a que escreveu Pacheco, transmitindo a sua solidão:
"... que ninguém venha na hora de não vir e vindo me deixe
desolar".
… certo que "A Força Humana" é a mais perdurável
comunicação do seu jovem autor, cuja engrenagem das
palavras lembra Cecília Meireles ("Vou para o alto, vou para o alto,
não me detenham", que voa alada a Cecília Meireles
em "no último andar, é lá que eu quero morar"), mas
nunca se escraviza se não à sua própria temática
e no jogo das idéias lança um "comentário em torno
de minha vida" e, crucificado na experiência poética, cumpre
a jornada paixão adentro, e réu de uma tarefa inacabada se
confessa: "Destas contradições venho nutrindo há trinta
e cinco anos a humanidade".
Imperdoável falar de "A Força Humana" sem colocar num primeiro
plano a excelência de sua apresentação gráfica,
que revela o bom gosto e o bom senso do autor na sua acolhida à
estética unida a um conteúdo irrepreensível.
A montagem de Walney Almeida, as ilustrações de Píndaro
e o planejamento gráfico da Artenova fazem lembrar e testemunham
a alta qualidade da gráfica brasileira.
Quem quiser guardar, ao livro ler, "Preceito" foi composto durante a Primavera
de 1969, e nele Álvaro Pacheco talvez revele toda a sua força
e o motivo de sua poética: "Viver a vida toda sem nenhum desperdício,
não apenas conjugar os verbos mas fazê-los sangrar".
O entusiasmo habitará quem ler este livro. |