Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
Av. Lageado, 1077 Porto Alegre/RS
90460-110
migpampa@zaz.com.br
Uma notícia bio-biográfica
 

Poesia

  1. A lavoura da fome - poema 10
  2. A lavoura da fome - poema 12
  3. Bicho bravio
  4. Parir é acaso
  5. Da árvore e do fruto
  6. O avental
  7. Plantar ou deixar-se plantar
  8. A lavoura da fome - poema 23
  9. A página branca e a migalha – poema 19
  10. A página branca e a migalha - poema 10


Fortuna crítica

  1. José Nêumanne Pinto
Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
Uma notícia da poeta (jul/2001)
 

Estreou madura na literatura, em 1990, encontrando na justeza do verso a forma de carpir núcleos do pensamento. Com sete livros publicados (duas antologias), é reconhecida como uma das mais originais vozes da poesia feminina brasileira. O poeta Thiago de Mello  salientou a particularidade de sua criação:  “Todas as suas palavras unem-se umas as outras por atração mágica inexorável. Todas têm boca, densa música”.

PRÊMIOS RECEBIDOS:
- Prêmio Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) Revelação em Poesia
(1990) pela obra “Nos Gerais da Dor”;
- Prêmio Erico Verissimo da Câmara Municipal de Porto Alegre/RS (1991),
- Prêmio Açorianos de Literatura na categoria poesia pela Secretaria
Municipal de Cultura de Porto Alegre/RS (1996) pela obra “Os Cantares da
Semente”;
- Menção Honrosa no Prêmio Casa de las Américas/Cuba (1999) pelo inédito “As Sombras da Vinha”
- Finalista do Prêmio Jabuti/2001 da Câmara Brasileira do Livro, categoria
Poesia, pela obra “A Migalha e a Fome”

BIBLIOGRAFIA (OBRA INDIVIDUAL):
- NOS GERAIS DA DOR, 1990. Movimento, Porto Alegre.
- DESIDERIUM DESIDERAVI, 1991. Movimento, Porto Alegre.
- VIDÊNCIA E ACASO, 1992. Movimento, Porto Alegre.
- OS CANTARES DA SEMENTE, 1996. Movimento, Porto Alegre.
- A MIGALHA E A FOME, 2000. Editora Vozes, Petrópolis/RJ

ANTOLOGIAS:
- PEQUENA ANTOLOGIA, 1992. Coleção Petit POA. Secretaria Municipal de Cultura/POA, 199
- CADERNO DAS ÁGUAS,  WS Editor, Porto Alegre/RS, 1998

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
José Nêumanne Pinto
Poesia de Maria Carpi bebe o século num sorvo só 

           Nos 143 poemas sem título reunidos no volume `A
           Migalha e a Fome', a poetisa gaúcha mergulha
           profundamente no tema da fome, abordando-o não
           apenas do ponto de vista social, mas também
           individual, e não apenas material, mas também
           espiritual 
 
 

           A fome é um problema social crônico. A solidariedade para
      com os famintos já produziu desde obras-primas da literatura,
      como o clássico A Fome, do Prêmio Nobel dinamarquês Knut
      Hamsun, até nosso descarnado e vigoroso Vidas Secas, de
      Graciliano Ramos, um dos pontos altos da ficção brasileira do
      século 20. Ou foi estudada como um fenômeno à parte por um
      sociólogo que foi moda no Brasil há uns 40 anos, o nordestino
      Josué de Castro. Mas também continua servindo de motivo para a
      mais torpe exploração política e demagógica de políticos sem
      escrúpulos, como comprova a recente criação do Fundo Nacional
      de Combate à Pobreza, a ser preenchido por recursos captados
      com o aumento da alíquota da CPMF de 0,30% para 0,38%. 

           A poetisa gaúcha Maria Carpi (Guaporé, 1939) dedicou ao
      tema 143 poemas sem título, numerados e divididos em quatro
      partes, reunidos no volume A Migalha e a Fome . Só que ela fugiu
      do facilitário do tema e mergulhou profundamente em suas
      dificuldades, abordando-o não apenas do ponto de vista social, mas
      também individual, e não apenas material, mas espiritualmente. Em
      seu percurso, ela chega até à página em branco, metáfora da fome,
      e à palavra criadora, imagem impressa da migalha que a sacia.
      Cumpre a tarefa com brilho peculiar, não apenas pela profundidade
      com que aborda o contexto, mas também pelo brilho que adiciona
      ao texto. 

           A voz poética de Maria Carpi não foi domada em escolas
      nem se amarra a estilos: não é moderna nem arcaica, não é da
      vanguarda nem do retrocesso. 

           Apenas é. Conseguiu escapar da monocultura do rigor
      cabralino que assola a poesia brasileira nos últimos tempos, mercê
      da dimensão da obra do grande pernambucano, sem, todavia, se
      deixar desencaminhar pela sedução do pitoresco. ??Sua poesia é
      tensa, mas calma. Não se impõe, mas também não se omite:
      participa, mas preserva. Sua palavra tem música, mas não se
      submete à melodia nem se deixa levar apenas pelo ritmo. 

           Para começo de conversa, ela não parte daquela adoração
      onanista da palavra como fim, da palavra pela palavra, mas parte do
      real como algo palpável. 

           Dois notáveis achados metafóricos demonstram essa sua
      ligação com o real - mais do que o real, o rotineiro, o cotidiano -,
      que não quer dizer necessariamente prosaico. No poema nº 24 da
      primeira parte (A Lavoura da Fome), pode ser encontrada esta
      preciosidade: "E debruçar-me à janela das coisas, / deixando o
      chapéu de palha seca / num prego dependurado, feito sol." O
      achado dessa metáfora está no acréscimo de elementos abstratos
      e inusitados à mera descrição de uma rotina morta: as coisas à
      janela em que a autora se debruça, a secura da palha do chapéu
      (não me lembro de jamais haver lido em nenhum texto a lembrança
      da secura da palha de que se faz o chapéu) e, finalmente, a
      metáfora final do poema "feito sol". Essa comparação absurda - do
      chapéu dependurado num prego com o sol, boiando no céu -
      contém uma carga de imaginação e de beleza que, à sua simples
      leitura, sustenta o poema inteiro, que, aliás, nada tem de realista,
      mas pode até, sem exagero nenhum, ser definido como surrealista
      (com imagens como "resmas de borboletas à boca molhada"). 

           Logo adiante, Maria Carpi usa o recurso que pode ser dito
      como oposto a esse, partindo de um elemento abstrato, mais do
      que abstrato onírico, para desaguar numa cena de cotidiano
      doméstico. No meio do poema 27 da primeira parte, ela escreve: "E
      o encadeamento dos sonhos / como uma réstia de cebolas / sobre
      o fogão que ficou aceso." Talvez seja útil acrescentar que, muito ao
      contrário do poema citado anteriormente, este último é nostálgico -
      o fogo é um elemento a mais na reconstrução da lembrança de
      uma casa de infância, ao mesmo tempo real e mítica. 

           Não está explícito no poema citado, mas decerto essa
      "casa de infância" dispunha de oratório. ??A poesia de Maria Carpi
      não é, de fato, mística, mas é lavrada inteira num ritmo de reza, de
      ladainha, sem perder nunca um certo sotaque bíblico. "Valha-me,
      pois, diverso / verbo para suprir-te a fome", canta no poema 29 da
      primeira parte. "Dá-me o quinhão do imensurável", ora, no último
      verso da primeira estrofe do poema 39 da quarta e última parte do
      livro (Ode de Amor e Fome - Sonata para Piano em Dó Menor). 

           Essa voz contrita é, como convém, humilde: "Não valho o
      pasto que rumino" (30 da primeira). É difícil aqui resistir à tentação
      de encontrar, não influência, mas, digamos, um certo parentesco
      com outra alta voz da poesia feminina brasileira, a da mineira
      Adélia Prado. Mas tudo o que em Adélia é explícito em Maria
      chega de forma sub-reptícia sem arroubos de fé nem confissões de
      amor místico. O que em Adélia é êxtase em Maria é lógico: "O
      ungido da fome não tem talheres / nem rompante de apetite.
      Não..." (32 da primeira). O que em Adélia é eucarístico em Maria é
      cáustico: "E quem a breve existência / visitou sem fome, nunca
      mais será saciado" (3 da segunda parte, A Página Branca e a
      Migalha). A certeza da redenção, que mobiliza Adélia, não comove
      Maria, que escreveu: "Tudo é para ser perdido" (9 da quarta). 

           No miolo de A Migalha e a Fome há toda uma digressão,
      interessantíssima, aliás, sobre o processo de criação. Trata-se de
      uma digressão metafórica, pois aí não se trata da fome de
      alimentos, mas de palavras. ??A autora expõe ao leitor seu
      processo criativo, exibindo com ele a criação poética alheia e geral.
      O desafio da página em branco é seu tema favorito: "Uma página
      em branco / nada mais é do que a pele / que necessita ser tocada /
      para que algo, ou alguém, / desperte..." (4 da segunda); "A página
      não garante o poema" (6 da segunda); "A página mais bela é o
      enlace / do precário com o insondável. / A desmedida no
      fragmento, / A pátria, no exílio..." (16 da segunda); "A página é a
      fatura do real / e a migalha, poesia e sonho" (27 da segunda). 

           Maria Carpi não é de ficar carpindo, submissa ao impulso
      natural da caridade diante do faminto. "A comiseração", ela
      escreveu no poema 8 da terceira parte (A Colheita do Faminto),
      "não é fome, / mas o preposto do fastio." 

           Pois "A penúria distribui-se / no que a abundância lhe
      retém". 

           Mais do que um tom musical, a definição do dó menor para
      a sonata de piano que serve de subtítulo à quarta parte de seu
      poema-livro é um juízo de valor sobre a piedade. Não se trata de
      uma questão de mauvaise conscience, mas de consciência
      propriamente dita, ou seja, da pressão exercida pelo faminto sobre
      o saciado. "Disse-me o faminto: sempre / retornarei a puxar-te pelo
      casaco"- assim ela dá início ao poema 12 da terceira parte,
      encerrado aliás de forma magistral: "Sempre o dente a menos na
      serra / que corta o tronco. 

           Sempre o outro / e, no outro, o múltiplo, a epidemia." 

           A poesia de Maria é como aquele verso que abre o primeiro
      poema da última parte de seu livro novo: "Uma lentidão de séculos /
      a um único sorvo, sem vagas." E mais ainda, como diz no 28 da
      quarta parte: "Essa desobediência interferente, / sem ordem natural
      com as coisas." Parece-me que, diante disso, tudo que já foi
      escrito por ela será ocioso e inútil acrescentar palavras que não
      cabem, uma vez que as citadas se bastam



In O Estado de São Paulo, 
Caderno 2, 18.03.2001
Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
A LAVOURA DA FOME – poema 10

Não sou eu que tem fome.
É a fome que me tem.
Ela me apura, hóstia, em

sua boca. Ela me salitra
a temperança para devolver-me
à fermentação, contra a cupidez.

A fome é o meu outro, escumoso.
Não vim ao mundo para saciá-la,
mas acendê-la, contra a cupidez.

E da fome me retiro, fatia,
para que ela seja inteira.
A fome, contra a cupidez,

também se retira em funduras,
para que o alimento esplenda
como um sol saído das vagas.

Não mais o impulso ao avesso,
não mais a seta e o batimento
nos ares. Apenas todo o Fruto.


(A Migalha e a Fome)

 

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
A LAVOURA DA FOME – poema 12

A fome à beira dos bolsos repletos.
A fome, teia,  nos guichês bancários.
A fome, aranha, nos parapeitos sólidos.

A fome na alça das valises executivas.
A fome das apólices extrapoladas.
A fome nos prontuários de serviços.

Nas gargantas, saturada de jóias.
A fome, lebre, das tratativas da fome.
A fome, lábil, na gorjeta da fome.

A sinaleira  da fome no tráfego da esmola.
A fome, cuspe, no escárnio da fome.
A fome, lâmpada, dos mortos de fome.

A fome imaculada dos ressurrectos
da fome, única, de milhares de boca;
da fome, santíssima, de tantas danações;

da fome anil da infecção da fome.
A fome gume da contração da fome.
A fome toda entranhas do parto

de mãe sucumbida de fome. Ei-la,
está viva! É filha de homem.
O mais é placenta. Cortemo-la!


(A Migalha e a Fome)
 

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
Bicho Bravio

Quero estar rente a tudo,
roçando as vísceras,
cheirando os acúmulos.

Quero apresentar-me
com a cara e as mãos
de quem acabou de fuçar

as hortas. Em desalinho,
em farpas, em suor misturado
aos sucos, com manchas

de frutas que não se alvejam.
Os cabelos emaranhados
de folhas e presságios.

As sardas da longa
exposição à inclemência.
Quero ser, da poesia,

o bicho mais bravio.


(Caderno das Águas)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
Parir é acaso

Parir é acaso. Tu pastoreias
os ventos e eles te seguem.

Ajudar a parir é vidência.
O vento sopra onde quer e

Outro é o rumo. O filho
estranho é mais luz porque,

não sendo teu, não lhe pões
o nome nem o trancas em tua

casa. Não o reténs em tuas
feições. Não herdará teus
olhos: o filho descabido
é tua gratidão. Os longes.


(Vidência e Acaso)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
Da Árvore e do fruto

Minha árvore eu a vi passar.

Não era um séquito de folhas
tombadas, mas uma romaria

de pássaros puxando uma luz.
A Árvore me provou e disse:

ainda não estás madura.
Ainda não te nasceram os olhos.


(Desejo de desejar-te)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
O Avental
 

No centro da casa,
uma vertente.
No centro do movimento,
o avental de minha mãe.
As toalhas jamais
sabiam secar-me.
Ali acalmava as mãos
interrompidas de voar.
Ali as lágrimas
e toda a trégua.


(Nos Gerais da Dor)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
Plantar ou deixar-se plantar

Tudo o que planto
é metade de tudo
o que sou plantada.

O que planto é um
por um; o que sou
plantada é sem conta.

O que planto é semente
comum, em tempo comum,
de acordo com o zênite

do sol, distribuído
em valas e freguesia.
E o que sou plantada
é semeadura especial,
com uma luz fixa e
um barco móvel, real.
O que planto, água
contida; o que sou
plantada é sem lacre,

chuvas, rios, pranto.
O que planto, vejo e reclino,
o que sou plantada me vê

e apura. O que planto,
disperso e colho. O que sou,
plantada, me reúne e cura.


(Os Cantares da Semente)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
A Lavoura da Fome – poema 23

Minha fome nunca é contemporânea
ao fruto. Para não ofuscar-me, sempre

revela-me a realeza de sua visitação,
revestindo-se de cascas e andrajos.

A saturação do alimento é o começo
da escada em degraus de pele e olvido.

O meu nascimento desnorteou
os relógios d’água. Antes de surgir,

padecia em teus sonhos. Saio
madura de tua apetência para a luz.

O meu nascimento foi  puxar-te
para as vinhas. Tua lentidão ao dar-me

a alma, deu-me peso. Eu sou o fruto.
A fome nunca é contemporânea a mim.


(A Migalha e a Fome)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
A página branca e a migalha – poema 19

Só a página te dará a saber
que estás despido. Tão penúria
que começarás a revesti-la.

Só a página te fará  perceber
que estás distante. Tão lonjura
que começarás a visitá-la.

E quanto mais te familiarizares
com a página, mais ela te será
um amor escuso, com cadeados

entre as vielas tortas e sua paz
secreta. Com cancelas entre
a querência e seu pampa aberto.

Ela recôndita e real; tu amador,
viajante incerto, trôpego de
propósitos, chegando a parte alguma.

(A Migalha e a Fome)

Voltar para o início desta página

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Clique aqui para conhecer o maior site de Poesias da Internet !!!

.
Maria Carpi
A página branca e a migalha - poema 10
 

A página branca é a única
que sabe qual o dia da própria

morte. A sede da água no recesso
da pedra. A sede da água não

capturável e o talo da sede,
ao último gole por todos os poros.

Ó página, ó rumor, lembra-te
de mim, em minha miséria,

quando alçares o chão além
da exigüidade. Não te esqueças

em teu esplendor, do fluxo arterial
que move os rascunhos ao falcão

imprevisível sobre a presa.
Eu te louvo e te bendigo, fome

imemorial, porque terei pouca
coisa a devolver aos vermes!


(A Migalha e a Fome)

Voltar para o início desta página