Mário Dionísio


Ode

Oh tempo de hoje a tua face é odiada por milhões Quem não te amaldiçoou ao menos uma vez? e não crispou as mãos e o rosto ao menos uma vez ao remoinho impiedoso das tuas contradições? Meu tempo meu tempo feito de braços decepados com gritos reprimidos tua poesia de dentes cariados teus sonhos desmentidos e ainda sempre amados Vêem-te o esgar Vivem-te o bafo pestilento todos te odeiam Sim Mas eu amo-te tempo dos meus dias e dou-te com fervor a toda a hora o mais profundo e mais inolvidável que há em mim


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