Mário Dionísio


Elegia ao Companheiro Morto

Meu companheiro morreu às cinco da manhã Foi de noite ao fim da noite às cinco em ponto da manhã Ah antes fosse noite noite apenas noite sem a promessa da manhã Ah antes fosse noite noite noite apenas noite e não houvesse em tudo a promessa da manhã Deitado para sempre às cinco da manhã Agora que sabia olhar os homens com força e ver nas sombras que até aí não via a promessa risonha da manhã Mas quem se vai interessar amigos quem por quem só tem o sonho da manhã? E uma vez de noite ao fim da noite mesmo ao cabo da noite meu companheiro ficou deitado para sempre e com a boca cerrada para sempre e com os olhos fechados para sempre e com as mãos cruzadas para sempre imóvel e calado para sempre E era quase manhã E era quase amanhã


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