Mário Dionísio


Memória dum Pintor Desconhecido

Os presos contam os dias eu as horas nesta prisão maior onde um olhar ficou boiando e uma voz um som de passos perseguidos na sombra perseguindo a segurança fugidia Na cidade que amo e a sós comigo é talvez só futuro ou já saudade com alma bem nascida entre o fragor de máquinas, cimento e energia atômica indefeso entre irmãos de cárcere demando a voz que foge os irmãos que não vejo o brando olhar que guarda o meu desejo e só consigo ver o gomoso arrastar das horas e das horas tantas horas à baioneta marcadas por uma sentinela aos quatro cantos da janela gradeada do dia- a-dia onde não há mais nada Que nada são os dias e os anos para um tão grande amor que vou pintando com o próprio sangue os meus e teus enganos que há de nascer que há de florir que há de e há de e há de quando?


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