Maria Firmina dos Reis 

Nas Praias do Cuman / Solidão
   
    
Aqui na solidão minh'alma dorme;
Que letargo profundo!... Se no leito,
A horas mortas me revolvo em dores,
Nem ela acorda, nem me alenta o peito.

No matutino albor a nívea garça
Lá vai tão branca doudejando errante;
E o vento geme merencório - além
Como chorosa, abandonada amante.

E lá se arqueia em ondulação fagueira
O brando leque do gentil palmar;
E lá nas ribas pedregosas, ermas,
De noite - a onda vem de dor chorar.

Mas, eu não choro, lhe escutando o choro;
Nem sinto a brisa, que na praia corre:
Neste marasmo, neste lento sono,
Não tenho pena; - mas, meu peito morre.

Que displicência! não desperta um'hora!
Já não tem sonhos, nem já sofre dor...
Quem poderia despertá-lo agora?
Somente um ai que revelasse - amor.

         
[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 177-178 ]
   
 
Remetente: Marlene Andrade Martins
 

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  02 de dezembro de 1997