Termina o dia, e o sol descamba triste
 A se banhar no mar, a se envolver nas vagas,
 Parecendo lutar, mas a treva persiste
 E densas nuvens se espalham por longínquas plagas.
São nuvens multicores, são rendas trabalhadas
 Como cortinas que vedam alcova nupcial
 Retalhos de purpúrea gaze entrelaçadas
 Adornando o horizonte, de cores sem igual.
 E como se do mar, fogueira crepitante
 Se acendesse no azul do firmamento vasto,
 E o sol baixasse tanto, que ao vê-lo assim distante
 Seus raios, após ele, deixassem imenso rasto...
 E num abraço terno o dia enlaça a noite
 E do casulo das nuvens, as estrelas ressurgem
 E a brisa que perpassa em tépido açoite
 Vai desfazendo as rendas nas trevas que se erguem.
 Pôr-de-sol no ocaso, como és belo afinal!
 Como és soberbo, imenso, como falas de Deus!
 Beleza renovada de forma magistral!
 Hino de amor ao belo que encanta os olhos meus.
 Hora de paz e prece, de amor, recolhimento.
 Doce harmonia de cores, panorama de luz
 Inspiração sublime, remédio ao sofrimento
 Benção divina e pura que ao próprio Deus conduz.
 Salvador - Bahia, novembro de 1957.  |