Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Endereço postal, expediente e equipe

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci - link para page do editor

 

Murilo Melo Filho

Alguma notícia do escritor:

  • Bio-bibliografia

 

 

Ensaio, crítica, comentário e tradução:

 

 

 

Só a DIDÁTICA em prol do Homem legitima o conhecimento

A outra face do editor Soares Feitosa, o tributarista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

Endereço postal, expediente e equipe

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci - link para page do editor

 

Murilo Melo Filho

O GLOBO, 7.9.2002

Tensão, disputas e vaidades por trás do mito e glamour da Semana de 22

A idéia modernista , de Wilson Martins. Editora Topbooks, 349 páginas. R$ 40

GRAÇA ARANHA: rompimento com a Casa de Machado em 1924/Divulgação
Murilo Melo Filho

Já se escreveu que o julgamento pessoal é a base da crítica, que não é propriamente um gênero literário, à semelhança do romance, da poesia, do ensaio, do teatro, do jornalismo, do conto e da crônica; mas que é, ao mesmo tempo, uma realização científica e estética, ao emitir conceitos e juízos de valor sobre uma determinada obra literária, teatral, arquitetônica, musical, cinematográfica ou escultural. .

Diderot, Voltaire, Saint-Beuve, Carlyle, Anatole, Lemaitre e Croce, entre outros, foram na Europa os grandes representantes do impressionismo crítico. E pertencem à história da inteligência brasileira, como seus discípulos, os tempos gloriosos da crítica literária de Medeiros e Albuquerque, José Veríssimo, João Ribeiro, Sílvio Romero, Araripe Júnior, Nestor Vítor, Humberto de Campos, Ronald de Carvalho, Múcio Leão, Sérgio Milliet, Álvaro Lins, Augusto Meyer, Alceu de Amoroso Lima, Agripino Grieco, Elói Pontes, Eugênio Gomes, Eduardo Portella, Antônio Olinto, Heráclio Salles e Afrânio Coutinho, ao retornar dos Estados Unidos, com o seu “New Criticism”.

Uma das fases mais ricas da literatura brasileira

Hoje, o último bastião de toda essa imensa e admirável geração de intelectuais brasileiros chama-se Wilson Martins.

Este seu revisitado livro “A idéia modernista”, inteiramente esgotado e que agora ressurge, revisto e ampliado, numa 2ª edição da “Topbooks”, em parceria com a ABL, analisa uma das fases mais ricas e discutidas da nossa literatura, com detalhes e informações inéditas sobre as futricas, as rixas, os entrechoques, os ciúmes, as lutas pela liderança, as vaidades, as disputas e as rivalidades nos bastidores da instigante Semana de Arte Moderna de 1922, cujo octogésimo aniversário estamos comemorando este ano

Está bem presente, também, a ação dos diversos grupos regionais em que se dividiu o movimento: o grupo gaúcho, o núcleo paulista, a ala carioca e o cisma nordestino.

Na primeira parte, Wilson reconstitui o caso Malfati e seu enfrentamento com Monteiro Lobato; a ofensiva de Mário de Andrade contra Marinetti e Mallarmé; a reunião de Menotti, Cassiano, Plínio e Motta Filho, no “Verde e Amarelo”; a “igrejinha” de Guilherme de Almeida, Rubens de Moraes e Camargo Aranha no “Klaxon”; o encontro de Tarsila, Oswald, Alcântara e Bopp na “Antropofagia”, e a reunião de Tasso da Silveira, Jackson de Figueiredo e Alceu de Amoroso Lima na “Festa”.

Aborda na segunda parte a atuação de Mário de Andrade e sua “Paulicéia desvairada”, seus “Macunaíma”, “Clã do jabuti” e “Losango cáqui”; de Cassiano Ricardo e seu “Martim-Cererê”; de Raul Bopp e seu “Cobra Norato”; de Menotti del Picchia e seu “Juca Mulato”, de Oswald de Andrade, e seus “Memórias sentimentais de João Miramar”, “Pau-Brasil” e “Serafim Ponte Grande”.

Conclui o livro com uma terceira parte, na qual, sem serem propriamente modernistas, são apresentados, entre outros, José Américo, Schmidt, Drummond, José Lins, Graciliano, Jorge de Lima, Jorge Amado, Érico Veríssimo, além de Bandeira, Alceu, Menotti, Ronald, Ribeiro Couto e Guilherme de Almeida, estes últimos seis a carregarem em triunfo o líder Graça Aranha, que naquela memorável sessão da ABL, dia 19 de junho de 1924, consumou o seu rompimento com ela e proferiu o seu grito de guerra: “A Academia morreu para mim. Se ela não se renova, que morra a Academia”.

Heresiarcas seriam futuros acadêmicos

Por uma dessas curiosas coincidências do destino, todos esses seis heresiarcas e peleadores do Modernismo, que haviam convocado a juventude para destruir a ABL, viriam, anos depois, sentar-se naquelas mesmas poltronas, que tanto haviam amaldiçoado. E a Academia, como mãezona indulgente, acolheu em seu aprisco as ovelhas desgarradas.

Esse Modernismo, insubordinado e rebelde — que além de uma simples escola, assinalou no Brasil uma época e um processo cultural — desfila aos olhos do leitor neste livro de Wilson Martins, que começa com a anemia literária resultante da notória exaustão do Parnasianismo e do Simbolismo, ocorrida em 1916. Lobato, com seu “Urupês”, assumiu aí uma posição de vanguarda, que, depois, em 1940, levaria Oswald de Andrade a reconhecê-lo como o “Protomártir e o Gandhi do Modernismo, por seu sacrifício e seu jejum”.

Desapaixonado, imparcial e objetivo, o “oitentão” decano Wilson Martins, recolhido ao seu “bunker” de Curitiba onde tudo lê e tudo sabe e de onde emite semanalmente, há vários anos, uma crítica autorizada e independente —- lança agora esta nova edição do seu “A idéia modernista”, projetando um facho de luz sobre conturbado período da cultura brasileira, hoje mais do que nunca necessitada de obras como esta, reconstrutora de sua face fiel, justa, transparente e verdadeira.


MURILO MELO FILHO é acadêmico e jornalista

 

Página inicial de Wilson Martins

 

Só a DIDÁTICA em prol do Homem legitima o conhecimento

A outra face do editor Soares Feitosa, o tributarista