Maria Manuela Margarido


Memória da Ilha do Príncipe

Mãe, tu pegavas charroco nas águas das ribeiras a caminho da praia. Teus cabelos eram lembas-lembas, agora distantes e saudosas, mas teu rosto escuro desce sobre mim. Teu rosto, liliácea irrompendo entre o cacau, perfumando com a sua sombra o instante em que te descubro no fundo das bocas graves. Tua mão cor-de-laranja oscila no céu de zinco e fixa a saudade com uns grandes olhos taciturnos. (No sonho do Pico as mangas percorrem a órbita lenta das orações dos ocãs e todas as feiticeiras desertam a caminho do mal, entre a doçura das palmas). Na varanda de marapião os veios da madeira guardam a marca dos teus pés leves e lentos e suaves e próximos. E ambas nos lançamos nas grandes flores de ébano que crescem na água cálida das vozes clarividentes.


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