Estou com gosto de sangue
na boca — disse
Benedito, da raça
dos Torres —
passamos todos a língua
nos beiços e ninguém
disse mais uma palavra
e os cavalos reiúnos
sumiram na poeira do
Bebedouro — e tenho sempre
esse gosto de sangue
na boca e esse gosto
de teu seio Sandra —
e as éguas adolescentes
desaparecem na praia
rebolando as ancas
e eu creio nelas — creio
em Deus Padre e creio
no rifle papo-amarelo
e creio
no mar salgado e creio
na relva negra de teu
triângulo, Sandra,
e as irmãs mais
velhas nos entregavam as irmãs
mais moças
e as mães
ofereciam as filhas e
este
foi o festim de amor
de Luciana, filha de Dolores
e de Susana, filha de
Raquel
e de Joana, irmã
de Marilu
and other females endin.g
in ana e um dia
o caboclo Otacílio
procurou o coronel e queíxou-se:
Amaro Florindo lhe desonrara
a filha no caminho
do Pilar
e recusava casar-se
e Amaro Florindo recebeu
para ser cumprida
a ordem do Coronel:
pagasse o que devia à
rapariga e durante
dois anos certo de estar
a moça casada o Coronel
não vira mais
a Otacílio — um dia apareceu
e perguntado
da sorte da filha da
casada:
"Coronel, pois não
casou"
irado e poderoso levantou-se
"
e a minha ordem a Amaro
Florindo?"
"Nós somos pobres,
sabe Vossa Mercê, e ele me
deu quinhentos mil réis
pela honra dela"
a voz do Coronel se fez
macia:
"e você ainda tem
filha moça em casa?"
"Duas, seu Coronel"
e súbito, de novo,
a poderosa voz:
"Mariana, traga depressa
uma nota de um conto
de réis e mande
selar meu alazão".
E a honra
dos machos e das fêmeas
galopava
à garupa de nossos
cavalos
e voltam sempre à
boca esse gosto de sangue e esse
gosto de fêmea
e volta sempre ao coração
a pura fé e creio
em Deus Padre e creio
o rifle papo-amarelo creio
no mar salgado e creio
em teu triângulo
e ali
guarda em teu ventre
guarda
amor, em tua sepultura
a raça dos Mourões
e não me engula
o mar salgado a negra
nau
a caminho de Delos
a caminho da de seio alvo
e de cintura fina
a há de passar
do lombo de seu touro
à sua coxa
pétala à
flor de seu umbigo à flor
de sua flor: e aprendi
a arte de pisar a flor
pisa na fulô
ai pisa na fulô
não machuca meu
amô e nem a brisa
de teu sorriso apague
o rastro de meu pé:
por ali caminhei, Kyrina,
Angela derelicta Laura
calipígia
por ali, Mylène,
banhado nuns olhos verdes
a caminho de ti, Sandra
de Almeida, caminho
montes de Vênus
montes da Tessália
e em tudo tenho parte:
no cheiro
de tuas virilhas e na
morte de Robel —
Robel morreu como matava:
quatro tiros na madrugada
vide "Gazeta
de Notícias"
Roberto Gomes Diamantino,
o Robel,
chefe de quadrilha
durante anos foi o terror
de Madureira e
adjacências
e foi encontrado morto
de madrugada na rua
Alcobaça
com quatro tiros no peito
e o principal suspeito
da morte de Robel
é Osvaldo 32,
assim chamado
só usava revólver
32 e Robel
matara Valdecir, vulgo
Viola,
comparsa de seu bando
Viola lhe proibira namorasse
a irmã
e com a morte de Robel,
aos 19 anos,
assume o comando o matador
Paraíba
chamado Salústio
ou Salustiano em Campina
Grande e Guarabira
e Paraíba era
temido pelo próprio Robel
vide "Gazeta de Notícias"
e nunca
se defrontaram para acerto
de contas:
tenho contas
a acertar com Robel e
Viola e Paraíba
incidentes da viagem
a caminho da Grécia
onde Isabel e as outras
assistiram
o poeta perder-se e achar-se
e adivinhar
não há
mais de um caminho para a Grécia
e passa pela estrela
de teu ventre
e a bússola de
um punhal do Cariri
e água e fogo
e ar no chão da Vila
do Ingá do Bacamarte
risquei no coração
cartógrafo
balisa natural ao norte
avulta
o das águas gigante
caudaloso
e no chão a alpercata
de Apolo, Godo,
e nas ondas o galeão
de Pero Lopes de Souza
e de seus bagos venho. |