Tomei o sol em trinta
e dois graus e um terço
com um pé-de-vento
do norte, árbore seca
um dos bergantins não
aparecia — dei
um calabrete por popa
pois não podia com a vela
grande era o mar, com
papafigos baixos
fazia-me da terra vinte
léguas
do cabo da terra alta
me fazia cinqüenta e quantas
quantas, amor,
de teus dourados promontórios
quantas quantas
da sepultura onde cresceram
de teus olhos
verdes
relvas.
E até quando as
naus em pairo? O grande mar
nos vem ter ao convés
e meteu-me
dois quartéis
para dentro: entrou tanta água
que entrambas as cobertas
me nadou o batel:
arribamos alagados
até o quarto da
modorra e andava
o mar de sudoeste com
o nordeste — cruzavam,
que não havia
homem
que se nas naus tivesse:
na terra, Luís,
tanta guerra, tanto engano
tanta necessidade aborrecida,
no mar tanta tormenta
tanto dano
tantas vezes a morte
apercebida
no ar tanto fedor tanto
mau hálito
tanto raposo tanto aliomar
tanta chuva de merda
de um castelo de merda
e esgoto roto
descarrega resíduos
de sarmentos podres
portelas de Caronte e
anabatistas energúmenos
convocando a tríade
de súcubos que
devoram
semente humana:
mas em vão — que
além
as serras que azulam
no horizonte, Alexandre,
estão
semeadas de Mourões
e os caminhos da Grécia
semeados de Mourões
e não morre Pero
e de seus bagos venho
da raça dos que
descobrem o mundo
e há uma raça
dos deuses
e uma raça dos
homens
e a raça dos que
caminham
entre os deuses e os
homens
de serras da Ibiapaba
a montes da Tessália
e sabe de Odisseu
trincar as águas
com traquetes limpos
no bordo sagaz de sulsueste
e naus ao pairo — e o
vento
se faz bonança,
Godo,
e vimos da gávea
ao noroeste um fumo
lançar a sonda
e demandar o fundo
e ao sol da primavera
a bordo
de Miguel e sua gaivota
— e
de uma vinha no mar
coroados de pâmpano
bebemos
à saúde
do Aconcágua e saudamos o Aconcágua
e depois da tormenta
é o quarto da
prima é o quarto d'alva é o quarto
da rosa e a terra é
mui formosa ribeiros
de água negra
seus cabelos
e muitas hervas e flores
como as de Portugal e
das rosas
de vinho e do vinho das
vinhas do mar
somos os grandes bêbados
cantando
a canção
incessante e da voz repetida
repetem-se rapazes raparigas
e
o chão floresce
e a caminho
da ribeira da Grécia
pelas ribeiras
de Jaguaribe e Mel Redondo
a Musa arrendonda as
ancas caminhando
e caminhar caminhando
é meu destino, Alberto,
estafeta de um Deus trago
notícias — algumas —
da Grécia. |