Gerardo Mello Mourão

Entre alabardas do Museu Histórico

Entre alabardas do Museu Histórico Gustavo Barroso inventava a glória paraguaia e Mariano Mafra pregava o massacre dos judeus enquanto Berta Samuel me devorava coração e pênis na Rua Santo Amaro e na Praia do Russel o Almirante jovial manobrava o bilboquê e o coração vida da minha vida, Glória querida — exclamava de joelhos e Dona Glorinha bela enchia de graça e suco de uva o cristal do Almirante e Paulo Fleming aprendia a um tempo o cálculo infinitesimal o ditirambo o gin e as noivas familiares e Manola o aguardava com seus olhos azuis e Simone era cantada por suas sonatas ao piano e seus cabelos naquele tempo Manuel Hasslocher era barão e entre suas lavandas cintilava a esmeralda no pulso da baronesa Torelli e se ensinava ao poeta o Bourgogne a lavanda as estrangeiras de tornozelo fino e os cachimbos de cereja e rolava em seu aroma o seio branco de Bice Taliani depois roçava la Karavaieva a tangerina de seu rosto e as marquesas da Itália e as putas de Araguari e la maison de Madame Janine Rua Cândido Mendes — Tônia Madô Louise e Dolly conheciam a virilha do príncipe libidinoso I am an indian prince, Madam, and this is Mr. Ottoni and this Mr. Americano Freire coming from Karputala — e Maria Alonso oferecera seu corpo paraguaio na noite de Buenos Aires e depois era cantada entre as grades do Presídio da Ilha Grande com aguardente e evocações às musas helicônias — e ali. Atena de olhos garços foi vista sobre.a relva noturna a bunda branca à lua e ao ritmo do prisioneiro alemão — e era uma vez o cigano dos Balkãs Nicolau e passou a lâmina no pescoço de ouro da cigana Marena e perguntava aos guardas do presídio — "a mulher é sua? a lâmina é sua? Então o sr. não tem nada com isso" e eu ia degolando com minha própria lâmina a minha própria rosa dessas noites desses dias — "Divino degollado! " — exclamava o poeta aos pés de Godo em madrugada de La Boca e los hermanos Peila contavam histórias obscenas de Abdias e Jonquières prestava testemunho do azul e depois Maldonado inventava inventos e Arden Quin assobiava a internacional na noite rouca e entre melodias arábigo-andaluzas Fleitas e Sarmiento forneciam a ordenação do tango en mi tristeza na pensão de Raymonde com Ginette ou Dolly e tudo era missão — a devassa Raquel esposa de general conspícuo na partouse de Mirtes ou de Mônica: todos tienen su tango — assim Ulisses quando Circe abriu as portas fulgentes e as coxas de ouro e ofereceu os pentelhos ruivos a farinha e o fulvo mel como vinho de Pramnos e os lívidos venenos e às vezes na taça de duas asas a libação afogava na garganta a gesta em flor e o fruto apodrecia antes do afago do zéfiro nas jeiras. E uma noite quando farejava sua barriga redonda, ela me disse: "hão de sempre esperar-te as naus recurvas pois tiveste parte nas rosas de Pieria" — e sei das escrituras de Galdino e Manuel Mourão e da divina Safo: tenho parte na rosa e na criança tenho parte na noite no ananás na rapariga e no rifle de Alexandre Mourão e com este mosquetão papo-amarelo que me mandou o compadre Jarmelino de Alagoas um Coronel de Tanque d'Arca e Limoeiro de Anadía matou cinco inclusive um padre de São Luís de Quitunde e um famanaz das bandas de Coqueiro Seco — e nessas mortes tenho parte


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