Gerardo Mello Mourão
E a duração do lírio fora um hálito
E a duração do lírio fora um hálito,
o lírio, Geraldino, de cristal,
que te floresce sobre a sepultura;
o lírio, Telmo, que em teus olhos pálpebras
apascentam de pétalas no claustro.
E no entanto durara: ao tempo quando
a madressilva não temia os pés
desabrochados entre margaridas
e a mão sabia a dança que hoje não.
Era não distinguir do dia a noite,
entre uma lua e um quarto errar em casa,
morar nas mangas e nas rosas hóspede
e ao pássaro alugar-se de repente.
E alugavam-se ao vento os calendários,
as datas e os ponteiros do relógio
sucediam-se pétalas de espátulas
alugados aos ventos os ponteiros
giravam girassóis de cataventos.
E a duração do lírio fora um hálito.