Gerardo Mello Mourão


Vem, formosa mulher, camélia pálida

Vem, formosa mulher, camélia pálida que banharam de luz as alvoradas tu que ousaste com teus olhos verdes conhecer a margem do caminho quem sabe tu de torna-volta Maria Helena do pais de Eleusis do anjo da morte houveras aprendido o mapa do sepulcro o equador guardado e a latitude onde a sibila dorme e a palavra do sortilégio e da ressurreição: os deuses a conhecem e Lázaro acordou à sua sílaba vinho da uva, água da fonte, luz da estrela emanação do amor ela se diz ao ouvido dos mortos e eles estremecem desatados da morte e do silêncio. Não a ouviste talvez em tua morte tu maestra del amor y de la muerte? Sábio de lembrar-me de seus olhos dela — sábia do amor, sábia da morte sobre as areias do coração não desmanchou a lágrima a planta de seu pé: e nesse rastro vamos e uma noite qualquer é sua voz o pomo do mistério partido em nossas mãos o oráculo. Madame Sosostris, Eliot, T. S. Eliot, o Major seu Né das Águas Belas eram de profissão adivinhões: ela era de profissão a minha amante aprendiz na oficina de seus olhos o oráculo da morta nos espanta e quem se nós clamássemos nos ouviria mais que ela? e atrás de seu caminho de mãos dadas vai nosso amor mais forte do que a morte. No solo las estrellas tienen el pulso del zenith Léa nas mãos dadas apertamos a estrela e a minha profissão é o teu amor e a tua profissão é o meu afago pousa o dedo no lábios da cigana e surge musa única musa vera única mais bela — morena e magnífica — sobre o dorso dos ventos que deitam o canavial sobre o lombo das novghas matinais em que te ensaias para a doce viagem nos meus ombros à ilha de cravo e mel daquela estrela.


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