Gerardo Mello Mourão


Era uma vez Manuel Mourão

Era uma vez Manuel Mourão e a forja do equinócio forjara os seus braços de ferro Manuel de Ferros era chamado e uma noite ao luar do alpendre sobre a rede fresca foi o uivo da fula suçuarana: desafiado o chumbo miúdo veio em cima da fumaça: sobre a mandíbula quadrada dos Mourões os olhos negros dos Mourões e a mandíbula fulva e os olhos fulvos da suçuarana e a insolência de Manuel de Ferros: e o convite ao bote e o bólide rabeia as fauces e as presas e os caninos e músculos e garras e a garganta se chofra na cilada da forquilha e à Parnaíba iluminada à lua as juguleiras jorram e um instante do ar, da lâmina embebida, dos tendões de ferro de Manuel de Ferros e de seu sorriso e do sorriso dos Mourões de dentes largos e mandíbula quadrada é o baque da fera. E as feras e as coisas e as pessoas tanto me atendem à cítara como à ponta do punhal e do novelo de fogo da linha do Equador são as cordas desta citara e o fio do labirinto: no hubo príncipe en Sevilla que comparársele pueda ni espada como su espada ni corazón tan de veras como un rio de leónes ergue a cabeça morena donde su risa era un nardo: morreu na praça em Sevilla teu último noivo — Ignácio: que gran torero en la plaza! que gran serrano en la sierra! que blando con las espigas! que duro con las espuelas! que tierno con el rocio! que deslumbrante en la féria! que bom no rifle e na faca que macho em qualquer função que Mourão entre os Mourões!


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