Gerardo Mello Mourão


E risco e arrisco as fronteiras

E risco e arrisco as fronteiras East Side West Side por Lexington com seus caimãs e javalis e entre as pombas trigueiras do país do sul arrulha a noite do Harlem e um saxofone de vestido verde rebola as ancas saudosas de Trinidad-Tobago Calipso and Calíope e requebrando à morte — Dallas, Texas sobre o seio de Helena flutua ensangüentada a rosa de Aquileu: — Alagoas! Alagoas! pelos Alleghanys pelos Apalaches a caminho de ti me sepultei no sepulcro das neves e das cataratas pelos parques de Buffalo onde Marcuse a Tânatos do tonel de Diógenes erguia a cabeça elegíaca de onde do meio de sua queda a catarata de meu pranto a Eros voltava e remontava o penhasco clamando entre os ciprestes a viuvez das Musas. E vêm chegando e vou me despedindo em Nova York houve um cantor — good night good night, sweet Prince, mad Prince: Dylan Thomas morto e bêbado suplica em minha cama os inocentes pés para o rastro de seu silêncio e sua lágrima: em Nova York, Ezra, houve um cantor — adeus, príncipe bêbado, houve um cantor e houve uma fêmea e à espuma do Gênesis descobriu entre as coxas surpresas a ressurreição da rosa alegrada ao tato à mão à seta à flauta de ouro — "good morning, darling" — e vou ressuscitando rosas mortas e vou me despedindo e a noite às vezes tem a redondez de um seio pois chegavam de Aruba e da Jamaica e ali o travesti francês arrisca as açucenas seu passo galgo esgalga a tarde e vou me despedindo e as clarinetes memoráveis orvalham a memória — e vou me despedindo — e rosto e mão vou modelando: sou o senhor e o sabedor dos gestos criei meu próprio rosto e minha própria voz e por isso me olham e me escutam e gerânio o cavalo a rapariga e quebra Apolo a flecha à porta da cabana Boa noite, Melpômene, Calíope boa noite Eleuth eros eria.


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