Gerardo Mello Mourão


No caminho de Aretusa

No caminho de Aretusa Hellas elas me iniciaram na língua e no alfabeto da língua: sabem agora os engenheiros e os empreiteiros: fui eu o ausente na torre de Babel guardo a letra o dissílabo o fonema e as chaves da sintaxe: — enquanto os povos se desentendiam em torno da areia e da argamassa e esqueciam o verbo e o advérbio nosotros recusamos a vã alvenaria ficamos de serviço, Efraín, com as nove meninas trabalhando na boca as promessas de amor em que sois mestre, Apolo: na sesmaria de violetas e girassóis por onde o ditongo maiêutico e a vogal eólia nominam nome e nume a Euterpe e às outras ao gavião e à pomba e à brisa e ao pêssego e à mulher e ao arco à flecha ao trigo ao vinho à abelha à fava ao favo e Artemis e Afrodite e Eleu theria. Quem se esqueceu pode lembrar-se e a semente da letra em sua leiva Linos faz florescer em Lambda e lírio — "Do you speak english"? — "No, darling", não estive na torre de Babel lambda loquor et lillia convallium e entendo a água o ar o fogo o azul e Lúcia e Laura e Léa e Luciléa e Lauriléa e Lucilauriléa e os cavalos e as éguas relinchando na madrugada de Pajeú das Flores e o motim de amor dos gatos no telhado de Iolanda Não estive em Babel — estive em Delfos e em Pentecostes e a Musa e a Virgem-mãe Mariamusa — Maria Leto Letícia repartiram comigo a língua de fogo e só ela conheço e tenho o dom da língua e me entendem o hebreu e o gentío e seus dialetos voltam à fonte e à flor et fons et flos dos tempos aurorais e a silaba da aurora posou-me sobre a sílaba dos lábios beijou-me a boca e neste beijo lateja o paladar de um deus e os outros deuses massacram meu coração e as moiras me plantam a demência na cabeça: invejado dos deuses "invejado a invejar os invejosos" — João — testemunho a beleza e canto a possessão de seu corpo e adúltero da adúltera choro a noite infiel Afrodite Helena Eleu theria trina teu nome trino pelas montanhas do país de Apoio onde pisaste as amoras maduras Cobrem- me o palitó as borboletas e as libélulas e aos lábios sábios de teu nome os beija-flores chegam e digo Mel po len me ne e é de mel a nossa lua desde já neiro a janeiro es cravo desse tufo de cravinas na virilha em flor por onde a sílaba da rosa pestaneja a pálpebra e balbucio o cio verbo gerúndio e gerundivo das intatas auroras videndus videnda videndum videndi video videmus videtur videbam visionem visa visione ablativo absoluto declino a Musa Musae Musaram Musis e o Musageta.


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *