Gerardo Mello Mourão


Nascia o gerifalte sobre os ombros

Nascia o gerifalte sobre os ombros na testa brotavam o louro e a madressilva a cintura gerava o boldrié de Orion e a flecha e o arco inteiravam as mãos o cavalo baio decorria das coxas e das ancas e nos olhos levantava-se a estrela: Phaeton! Phaeton! A caça caça o caçador A sombra assusta o corpo mas Apolo não teme seu fantasma e o cavalo baio galopa seu galope junto ao gerifalte à flecha à estrela Phaeton! Phaeton! Pois me nutrias quando a mão celeste ordenhava as estrelas apojadas de azul poeta sum a boca cheia dos gomos luminosos e da Vega da Lira e de Cassiopéia por isso — Fratello Sole, digo, Sorella Luna doce incesto noturno tu Pythia, tu Phebéia, tu Delphinia Artemis Artemísia quia nocte quasi dies in diebus diabola Bêbados de estrelas rolávamos sobre as constelações no lagar capitoso Phaeton! Phaeton Incestuosa — de nós mesmos nascíamos e éramos naquele tempo nossa própria fábula e a mesma flama nos torneia agora o corpo fulgurante no coração da lenda Pois quem te lembra nua empinado el culo quando ardiam nos lençóis as sarças peludas — eras a mera lenda e em tua virilha lendária fabulava o odor do pênis mitológico — Phaeton! Phaeton! Os cavalos nitrian no pântano, dos astros e seus cascos golpeavam os planetas — a espuma dos meteoros no focinho: os que Zeus derruba das alturas deixam no firmamento a Via-Láctea Phaeton! Phaeton! teu rastro Pyrie eleison. Sob plátanos brancos de uma ilha sepulcral oficiava ao crepúsculo tua beleza, amor Phanes Phanus Phalena Phales Phalerus Phales Phalanthus Phaletusa Phaeton Phalanthus Phalus De falernos na cavalgada embriagada conhecemos as veias da manhã e os ossos da noite pois transpusemos a aurora e seu crepúsculo e do tempo regido ao casco dos cavalos falernos apeei-me à fronteira da eternidade Atymnios — da heroica louvação insaciado Bebi o vinho do tempo — e a eternidade é minha embriaguez pois não existo mais senão no coração da lenda — e sou eu mesmo a minha própria lenda Phaeton heroicis laudibus non satiatus non satiatus insaciável inefável inconsolável pontífice e histrião mordia os rins do planeta e fincando as rosetas das esporas chibateava o lombo da galáxia com meu cometa coruscante Phaeton! Phaeton! um trevo nos calcanhares o rastro dos pés inapagável dizia norte e sul e leste e oeste com a rosa-dos-ventos sob os tornozelos ego poeta vou caminhando como o som caminha desde por para até ubi unde quo qua et usque quousque quam diu.


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