Cavalgamos as terras
devastadas
Quando a nave em que
velejávamos
não tocava o fato humano.
E lá estava ela
A tua lua, luna, moon,
la lune il faut
Que sejamos nós
e nus
e quase nela toquei teu
seio metade meu
inteiro em minha sede
onde eras não
nascida. Uma só lua branca
campesina personagem
bordado terrestre.
Não te alcanço
quanto te toco com a retina
Mas me alcanças
sempre
e comprimes o meu coração
pisado
por todas as caravanas
de revolucionários do
planeta
Vens a mim como quem
reza
e participo do teu corpo
como quem peca
e quero ser pecado para
sempre querer-te pura.
Pedaços de mim,
partes que conspiram.
E tu não te dás
nunca por igual
nem tuas partes repõem
partes de mim
e me vertes em teus estados
e me fazes um cidadão
em cada pedaço
que concedes.
Outro dia escorria de
tua vagina
algo que te iluminava.
Sorvi o teu líquido
frio, estelar. eu e tu
eclipsados na noite.
Penetração inconsciente
e me abarcavas sem velas
O desejo, dizíamos,
o desejo enfim chegado.
Era hora de regar os canteiros
desertos
e perduramos pendulares
toda a noite
a preencher os cântaros
de todos os cantares
recipientes da fonte
onde habitávamos.
E fizemos argilas de
puro sopro
e para não morrermos
de êxtase dizíamos:
cu, buceta, pau, querubim.
E estremecíamos
porque voltarias a aparecer no céu
qual vida apartada do
que não pudemos ser.
Restávamos sós,
sóis, dois.
Um homem e uma mulher
no deserto
quase arrependidos de
tantos recipientes
desabitados
envergonhados de nossas
formas múltiplas
multiplicadas.
Vazios de tudo dizíamos:
pão, leite, café, rochedo.
E nos debruçávamos
no curso deste rio
que chamaríamos
dúvida
se quizéssemos
morrer de demência.
Este rio lunar que nunca
existiu
e no qual ansiávamos
em perdurar.
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