Mário Pederneiras


Íntimo

(fragmento)


A boa vida é esta: O sossego normal deste meu quarto, Em luz e paz imerso, Onde as horas reparto Entre o — do ganha-pão — rude trabalho E o Culto do meu Verso, Que me dá e atesta A certeza orgulhosa do que valho. E numa esfera assim, clara e discreta, Que um bem-estar pacífico resuma, Ter, como eu tenho, quando leio e escrevo, O suave enlevo, De uma Doce figura feminina e casta Que, alegremente e carinhosa, arrasta A vida heróica de mulher de Poeta. Não que o Poeta seja um mau, um triste Merecedor de insultos e de apodos, De ódio e menoscabo... Nele, ao contrário, só doçura existe, Mas porque é um pobre diabo Que sofre mais que todos.


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