Manuel Sobrinho
São Francisco
Ó triste e pobretã cidade maranhense!
Por que a eterna canção romântica das águas
Do velho Parnaíba onduloso não vence
Teu descontentamento e tuas fundas mágoas?
Por que já não te enfeita a pompa que outrora
ostentavas riqueza, orgulho e poderio?
Não vês que ao pé de ti o arvoredo se enflora
Ao beijo das manhãs translúcidas do estio?
Por que sofres assim? Por que definhas tanto?
Por que te pesa a cruz de tal adversidade?
Olha: a árvore remoça em teu subúrbio, e o canto
Das aves do teu céu traduz felicidade...
Por que tua cerviz dobras e não encaras
O céu, que nos dá força, em nosso desalento?
Vês? O Morro da Cruz e o Morro das Araras
Erguem a fronte larga à luz do firmamento...
Por que, perdendo a forma estética, te afeias,
Contrastando com tudo aí desse recanto,
Quando eu — que sou teu filho — eu sei que te rodeias
De infindáveis painéis do mais soberbo encanto?
Por que fazes, agora, humilde, curvaturas
A tudo o que enfrentaste, outrora, com denodo?
É que, nas asas do ouro, ontem galgaste alturas,
E hoje, rastejas, pobre e anônima, no lodo.
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