Manuel Sobrinho


Meu Sabiá

Subindo os alcantis, galgando o azul, varria O áureo clarão da aurora as sombras no Nascente. Sustenidos, bemóis, pelo festivo ambiente Vibrava o passaredo, hinos entoando ao dia. Vencendo pouco a pouco a tristeza e a apatia Em que a envolvera a treva, inexoravelmente, A natureza enfim livre e resplandecente, Com régia majestade e intrepidez se erguia. Tudo acordava e ria um rio amável, tudo! Só na estreita gaiola, impassível e mudo, Dir-se-ia meu sabiá num pensamento absorto... É que — maldade humana! — o pobre passarinho, De saudades, talvez, do profanado ninho, Perdera a voz, que eu tanto ouvira... — Estava morto!


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