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Página atualizada em 04.09.1999
 
 
Manoel da Silveira Porto Filho

Remetido por
Estanislau Fragoso Batista


MANOEL DA SILVEIRA PORTO FILHO, nascido no Rio de Janeiro, na Pedra de Guaratiba. nos anos 20. Poeta parnasiano, de uma grande sensibilidade. Professor de português no bairro de Campo Grande. É dele a frase:  
"O chipe-chape dos remos cadencia as falas dos pescadores da Pedra de Guaratiba". Morreu em 1997 com mais de 70 anos.  

5 poemas de Manoel da Silveira: 

    Destino  
    Sabedoria 
    O fauno  
    Teu pobre coração  
    Exortação
   
Destino 
  

QUANDO nasci (clara manhã radiosa!) 
era a hora em que, dos galhos e ramadas, 
os passarinhos, numa rumorosa 
festa, ensaiavam cantos e revoadas.  

Cresci. Hoje. homem, na maravilhosa 
trama de sonhos e de derrocadas, 
como que ainda guardo na alma ansiosa 
sussurro inquieto de asas distanciadas.  

Daí nem vem, talvez, este destino 
de andar vivendo assim, na febre louca 
do Amor, fonte de dor e desatino,  

e em dolorosos cânticos mudar 
os beijos que sufoco em minha boca 
e as lágrimas que escondo em meu olhar.  
 

   
Sabedoria
  

TODO amor dura apenas nesta vida 
o que dura ume flor: uma estação. 
Depois, pobre da rama emurchecida! 
Infeliz de quem deu seu coração!  

Amamo-nos. No entanto, bem sabida 
temos a prudentissima Iição: 
- todo amor dura apenas nesta vida 
uma semana, um mês, uma estação.  

Nao hemos de sofrer no último dia. 
Mas deixaremos, com sabedoria, 
morrer o amor, sem pranto e sem queixume,  

como as rosas nas tardes estivais: 
- dando o perdão sutil de seu perfume 
à desumana brisa que as desfaz. 

   
O Fauno 
  

LEMBRO às vezes. E sou um fauno adolescente 
cantando em derredor de fontes encantadas 
onde se vem banhar, perturbadoramente. 
lascivos corpos nus de trêfegas naiadas.  

Meu olhar, mais que o sol, beija, intranquilo e quente, 
alvas formas sensuais entre a água divisadas. 
Ergo o cálamo. No ar vibram, perdidamente, 
selvagens emoções e ânsias insopitadas.  

Nuas, num virginal impudor, as banhistas, 
mãos dadas, vêm bailar em torno ao fauno. A alfombra 
freme. A água soluça em queixas imprevistas.  

E ante o exemplo maior das ninfas e naiadas, 
as árvores, deitando as túnicas de sombra 
aos pés, erguem ao sol a nudez das ramadas.  
 

   
Teu pobre coração 
 
 

TEU pobre coração envelheceu sorrindo 
nessa espera infeliz de alguém que te não veio 
despertar para o amor, num gesto suave e lindo 
de ternura a vibrar num leve galanteio.  

Entre lendas gentis envelheces. Ao seio 
as mãos, feitas em cruz, ergues, alvas. Fulgindo, 
a estrada morre ao sol. Como te assalta o anseio 
de por ela surgir o Príncipe bem-vindo!  

Nas ramadas em flor dois pássaros, sozinhos, 
beijam-se. Elevam no ar hinos de um sangue moço. 
E, ao ver com que ternura aqueles passarinhos  

sabem amar-se em meio às ramagens floridas, 
corre-te à flor da pele um trêmulo alvoroço 
de ocultas sensações e ânsias desconhecidas.  
 

   
Exortação 
  

ABRE ao largo do oceano, em teu mastro latino, 
num desafio ao céu, a vela triangular. 
Não te assustem parcéis. A alta voz do Destino 
te chama para além. Coragem, pois. Ao mar!  

Borrascas, furacões... Que importa? Em desatino, 
rujam vagas, os ventos cruzem-se a raivar. 
Levas, cantando em ti, um talismã divino: 
- o teu sonho é maior e mais forte que o mar.  

Enrija-te, portanto, e continua. Em ilhas 
quietas nunca distraias tua rota. E quando 
o oceano escancarar-te abismos sob as quilhas,  

pensa que o mar deseja apenas, e não mais, 
desvendar-te o mistério onde bailam, cantando, 
as algas e os tritões, as ninfas e os corais.

    


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