Martins Vieira


Promessa Vã

O Céu finge que ri; depois, fecha a carranca: irado, amarfanhando o punho — a renda branca, disfarça num muxoxo um fuzilar de raio. O Sol se inclina mais, olhando de soslaio, e, ouvindo o rataplã dos bombos do infinito, oculta-se, a fugir, qual um Astro proscrito. Na cúpula central da Sé da Eternidade bimbalham carrilhões. Desaba a tempestade. Mil raios a silvar, cor de aço, coruscantes, soprando um pleno espaço os cebês trovejantes, parecem pentear as crinas encrespadas dos negros esquadrões das nuvens rebeladas. Vêm elas a rugir. Um furacão sacode-as; matracam mil trovões, fantásticas rapsódias por entre o fuzilar de estranhos azorragues: são raios cor de prata ardendo em ziguezagues, avisos de Tupã, mostrando Tudo ou Nada a força sem matéria, à frente da lufada! ... Começa o crepitar de roucos alaridos, metálicos, febris, soluços mal sustidos uivando em derredor. Um arrastar de pesos no sótão da amplidão vem sacudir retesos os nervos a fremir, que esperam pela chuva. Debalde! O Céu se opõe, arremessando a luva...


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