Natércia Freire


Regresso

Quem é? Quem vem? A porta não estacou e todos pela mesa olham pasmados. Só eu amimo a voz: — Olhem quem vem! Reparem quem voltou! Rolam silêncios fundos e pesados. Imóvel no meu barco de luar, os meus olhos venceram as ramadas. Música longa... Um sino a palpitar. Calçadas e calçadas... Presépios com pastores de palmo e meio. Velas que são faróis... Cresceu a bruma. Deitem-me assim, num jeito de menina, e envolvam-me de espuma. — Olhem quem vem! Reparem quem voltou, que tem os braços que eu gritei além! — Vou com ele, não volto, minha Mãe! Vou com ele nos uivos da tormenta, com ele vou pregada na paixão. Medo de quê? Oceanos azulados... Medo de quê? Neblinas e canções... — Dentro do Espaço adoçam-se pecados e morrem solidões. Sem braços me tomou na posse enorme. Roçou-me os lábios, simples sem ter boca. Ele é quem diz: — Sossega, dorme, dorme... E nunca mais me toca! As tardes, mesmo ao longo dos casais, cegos: falas de gestos a ninguém... Quem é? Quem vem? Para sempre me tomou ... — Vou com ele, não volto, minha Mãe!


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