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Natércia Campos




Sobre a poética de Soares Feitosa
 


Fortaleza, 14/agosto/96



Louvado seja Nosso Jesus Cristo!
Meu compadre Soares Feitosa

 

Ando convivendo devagarinho com o "sol". Vou leve para não me encandear... Sinto que estou pegando estima, me afeiçoando como os domésticos xerimbabos. "Mundo, mundo, vasto mundo se me chamasse... Esse mundo em "réquiem" é feito de ressurreições: viventes, cheiros, costumes, cânticos, mitos, "cacimba clara", fria e cheirosa. Já sentiu o cheiro da água, das levadas? E seus sussurros...!

"Mundo velho sem porteira"... Vontade de me apoiar na parte da porta-de-baixo de uma casa nordestina, perdendo o olhar nos caminhos e sentir que longa será a nossa caminhada por este mundo de de meus Deus...

Havia de ter tido início no mês de agosto, de céu escampo e do mais belo luar. Do mês só me arrepia — o mais aziago dia do ano — em dia de São Bartolomeu. Tem o demo uma hora de seu, diziam assim em Beira, Portugal. Já o Leandro Gomes de Barros Cantava:

A 24 de agosto,
data este receosa
por ser a em que o diabo pode
soltar um dedo de prosa
 

Mas este agosto para mim chegou pleno de alvíssaras com o seu Réquiem em sol da tarde, que me transporta:

"Era assim
já foi assim:
a missa do Padrinaço
com toda a pompa...
fervoroso na batina
sacerdos in aeternum...
Cum laude!
 

Retorno da liturgia, do latim, da Missa Sollemnis, dos Cantos Gregorianos, aquela grandiosidade, a eloqüência, o Magnificat, o Bispo Conde, José Tupinambá e seu séqüito de glória...

"... a morte tangencida/ às vezes/ morrida!"
 

Antífona, sete, deu o número perpetuado desde a Babilônia, está na Bíblia, no Alcorão, misterioso, sagrado, sete-estrelo, sete as da lira, sete as forças do banho-de-cheiro, feito de sete-ervas; sete os céus que cobrem o mundo antiqüíssimo que você acalanta e nos faz pródigos no retorno à casa paterna.

Para sempre seja louvado.

Natércia
 



Soares Feitosa, 2003
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