Newton Navarro

A  Cadeira
(A Moça Sentada)
                  
 
 
O alto corpo se curva, 
Quebram-se as linhas 
E partidas formas lentas 
Se debruçam. 
Do vivo traço que era 
De pé, como haste erguido 
Em três planos se dispersa. 

Vivos olhos, agudamente, 
Percorrem a sala sem lume. 

Dois seios pulsam, solenes. 
As mãos uma flor seguram 
Suspensa sobre o regaço 
E o sexo e a flor se ocultam 
No sem espaço da curva. 

Pernas suspendem ligeiras 
Os pés, e as alpercatas 
Caem no vazio onde foram 
Sólidas raízes do corpo 
Que a cadeira despedaça. 

E na sombra, 
Sem movimento, 
Todo o corpo adormecido 
Sobre o corpo da cadeira 
Mulher de amor ausente 
Talha na sombra envolvente 
Vivo relevo de carne 
Inútil sobre a madeira.

                             
                                                                    Março -  1953 
                                     
                                        
Remetente: Walter Cid

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  27  de  Maio  de  1998