Poemas:
PÁSSARO CANORO
Trago dentro de mim um pássaro canoro
alegre como o sol e manso como o luar...
Dele, talvez me venha este verso sonoro
falando de um desejo imenso de voar...
De voar para além, para um rincão distante
onde não vingue o ódio, onde não medre a dor.
Para um país de luz perene e deslumbrante,
para um mundo de paz, de harmonia e de amor.
ENVELHECENDO
Ânimo, ó viajor, és moco e és forte, apanha
o teu bordão e galga a montanha da vida!
Eu era forte e moço e a encosta da montanha
pus-me logo a escalar em rápida corrida.
Não corras tanto, assim! O sol dourado banha
a tua estrada branca, esplêndida, florida;
trinam aves de arminho e aquela árvore estranha
abre-te o pára-sol da copa colorida.
Demora um pouco. Vê!... Mas eu não vi, corria
na pressa de atingir o alto da serrania...
E agora, triste e só, cansado e em desalinho,
descendo a oposta escarpa á luz de um sol poente
levo, no olhar velado, a saudade pungente
daquilo que deixei de ver no meu caminho.
ESTRANHO
Esses, por certo, hão de saber quem são,
de onde vieram,
aonde vão,
pois parecem felizes. E eu, quem sou?
De ande vim eu?
Aonde vou?
Às vezes me pergunto, a mim mesmo e, cansado
do silêncio da espera indefinida,
olho a sombra que vai, tal qual a minha vida,
negra e longa arrastada á margem dos caminhos,
sem saber de onde vem, - por sobre abrolhos,
sem saber aonde vai, - por sobre espinhos...
E a sombra esboça um gesto amargurado
de quem esmaga lágrima nos olhos...
Oh! os que vão a rir hão de saber quem são
mas, ai! eu que soluço arrastando-me a esmo,
sei apenas que sou um estranho a mim mesmo.
OCASO
Hora de tédio e de meditação!
Longe agoniza o sol num poente de ouro e de aço,
e em meu peito outro sol de luz magoada e fria,
pinta o pálido azul com as cores da agonia.
Andam asas no espaço.
Asas cor de carvão.
Na torre lanceolada de minh'alma
há vagos sons de violino
chorando o ritornelo gris da mágoa.
Expira a tarde, plange o sino,
é morta a luz, morta a ilusão...
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