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Octavio Paz: o último
mandarim intelectual
MARIO VARGAS LLOSA
Los Angeles Times Book Review
BERLIM - Com a morte de Octavio Paz, a cultura de nossos tempos
perde um poeta e pensador excepcionais. Embora com profundas raízes
no México, seu país natal, a obra dele transcende fronteiras
nacionais e abarca a cultura ocidental, enriquecida com imagens, idéias,
argumentos e invenções que deixaram marca indelével
na criação poética, na arte e na crítica literária,
na análise histórico-social e no debate político.
No mundo de fala espanhola, Octavio Paz foi o último mandarim intelectual,
no estilo de Jean- Paul Sartre e Albert Camus na França, José
Ortega y Gasset na Espanha ou Alfonso Reyes no México (Ortega e
Reyes foram professores de Paz - no sentido mais amplo do termo - e ele
escreveu lúcidos ensaios sobre ambos).
Tal como todos esses homens, Paz foi um humanista, motivado pela curiosidade
universal e por uma cultura cosmopolita que o levaram a escrever sobre
os mais diversos temas e tornar-se a consciência viva de sua era,
um ponto de referência em cada momento crítico, fosse ele
um conflito ideológico, uma polêmica sobre estética
ou um dilema moral.
O surrealismo despertou seu entusiasmo na primeira fase, mas sua poesia
evoluiu e acabou explorando todas as vias da vanguarda e as experiências
pós-modernas. Sua poesia também se apropriou das tradições
francesa, inglesa e espanhola e até da indiana, chinesa e japonesa,
culturas com as quais ele se familiarizou nos anos em que foi embaixador
do México na Índia.
Paz renunciou ao cargo em 1968, quando ocorreu o massacre na Praça
das Três Culturas (Tlatelolco), no México. Esse gesto revela
outro aspecto fundamental de Octavio Paz: sua integridade cívica
e sua ciosa defesa da liberdade e da democracia contra todas as ideologias
totalitárias, de direita ou de esquerda.
Num de seus mais festejados livros, O Ogro Filantrópico (1979),
ele tomou como exemplo o partido governista do México, o Partido
Revolucionário Institucional (PRI), e sua ditadura dissimulada -
mais de 70 anos no México.
Com admirável perspicácia, Paz dissecou os mecanismos que
o totalitarismo e os regimes autoritários usam para asfixiar a cultura
e destruir a soberania cívica.
Cultura da liberdade - Ao contrário da maioria dos grandes
escritores de sua geração, Paz nunca sucumbiu ao canto de
sereia do marxisno; e, mesmo nos anos 50 e 60, quando o dilema dos intelectuais
à sua volta parecia ser a escolha entre o comunismo e o fascismo,
Paz - junto com Albert Camus - teve a coragem de combater as correntes
em voga.
Apesar da hostilidade que seus adversários ideológicos provocaram
em torno dele, Paz continuou pregando a superioridade da cultura da liberdade
contra seus inimigos. As revistas que ele editou, principalmente a que
ele dirigiu nos últimos 20 anos, Vuelta, sempre foram
uma tribuna cívica a partir da qual a censura, o dogmatismo, a ditadura,
o terrorismo político ou intelectual foram condenados e a tolerância,
o pluralismo e a escolha democrática, defendidos.
Não existe hoje no mundo de fala espanhola ninguém capaz
de preencher o vazio que Octavio Paz deixou. (Tradução
de Magno Dadonas)
Mario Vargas Llosa é autor de vários livros, entre
eles `Tia Júlia e o Escrevinhador' e `Os Diários D. Rigoberto'.
Este artigo foi traduzido do espanhol para o inglês por Alfred Mac
Adam.
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