Otavio Ramos

Bar do Lulu

(à maneira de Fernando Pessoa e Noel Rosa)
O bar do Lulu solta fogo pelas ventas. Madrugada insinua ânsias lentas. A Juke-box desfila Perfume de Gardênia — me alegro ao som do bolero plangente — beijo na boca uma nega do Kênia (nada do que é humano me é indiferente). Calorosos aplausos da claque — e eu peço ao garçom mais um conhaque. Me esqueço de ti no bar do Lulu. São tantas coisas tantos rires viveres sonhares quereres me sinto múltiplo de mim mesmo a nu, que por não estares acabas por não seres. Mas vai fechar o bar do Lulu — metafísico alvorecer de claro-escuro — empilham mesas, varrem o chão duro e eu pago a conta e subo a rua, pra ir dormir junto com a lua.

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