Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

Paulo Bonfim


Luz e Sombra

in "DIÁRIO DE SÃO PAULO",
11.04.67

 

E o mar se faz carne, e a carne é uma flor de mármore na lapela da cidade. Dentro da paisagem onírica "O Sonho dos Cavalos Selvagens", de Álvaro Pacheco. O galope glauco dos hipocampos, a face heráldica dos licornes, o galope altivo dos vocábulos de raça. E entre o leito do amor humano e a nostalgia do tempo em que os deuses penetravam a dimensão dos heróis surge este cantar da imensa solidão:
 

na hora da dor
você está sozinho
na hora do gozo
você está sozinho
na hora da morte
você está sozinho
você está sozinho
em todas as coisas importantes
você está sozinho
em todas as conseqüências
e qualquer que seja o peso
a carga é sua e, de fato
ninguém pode lhe ajudar."

 

E num grito que vai dos blocos de concreto armado ao sangue de Knossos, o poeta entrega à vida a nobreza de um epitáfio:
 

no futuro dirão:
esse, pelo menos tentou:

caiu, tentou levantar-se
andou, tentou permanência
amou, tentou o infinito
(viveu, tentou não morrer)

 



Álvaro Pecheco
Leia a obra de Álvaro Pacheco

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

Início desta página

Nelly Novaes Coelho