Pedro Cabral
Quem por ti chora, Alagoas?
Quem chora por ti, Alagoas ?
Tu que andas tão tristonha ante à ira de irmãos tão inclementes.
Assim tão pequena salpicada do líquido marinho tão esverdeado quanto a esperança.
Assim tão transigente com as águas usadas que te molham as costas cálidas
vindas de outras terras em busca do mar verde.
Assim como se tu província, fostes apenas única família de eternos marginais.
Quem por ti chora, Alagoas ?
Tua própria terra com teu sertão enluarado ou teu monte de revolta negra ?
Ou é teu filho que no chão úmido lançou alguma poesia só fora válida ?
Ou tua vergonha diante dos biltres acesos que também produzistes
por confiares nas almas puras ?
Quem por ti chora não é ninguém, talvez a aurora que todo dia te acalenta
Talvez a escrita de algum filho teu que por ti já não chora
Diante do medo de ser visto como coberta reprovável.
Mas por quê por ti chorar ?
Se tu não tens a sisudez do rancor nem o pecado exclusivo de pecar
Se tu não tens a frieza do grande espaço nem a pobreza de um olhar
Se tu somente tens o sorriso numa porta e a saudade do encontro.
Mas por quê por ti chorar ?
Se teus filhos morrem sem o gesto de uma lágrima
Se teus irmãos, escondendo as próprias máculas, deslustram tua fraqueza
Como se tu fostes a culpa de toda ignorância.
Teus filhos já não amam.
Teus filhos já não falam nem protestam a honra de uma mãe
Teus filhos já não sabem se são filhos da nação.
Não há lágrimas nos montes frios
Nem há carinho no planalto
Tampouco um afago de teu vizinho
E sequer um abraço de algum irmão.
A natureza apenas por ti clama
No orvalho de um coqueiro
Na neblina do sertão.
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