Pedro de Alcântara


Soneto

Não maldigo o rigor da iníqua sorte, Por mais atroz que seja e sem piedade, Arrancando-me o trono e a majestade Quando a dois passos só estou da morte! Do pego das paixões minha alma forte Conhece a fundo a triste realidade, Pois se agora nos dá felicidade Amanhã tira o bem, que nos conforte. Mas a dor que excrucia, a que maltrata, A dor cruel que o ânimo deplora Que fere o coração e quase o mata, É ver da mão fugir à extrema hora A mesma boca lisonjeira e ingrata Que tantos beijos nela pôs outrora!


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