Silvino Pirauá de Lima

E Tudo Vem a Ser Nada

Tanta riqueza inserida Por tanta gente orgulhosa, Se julgando poderosa No curto espaço da vida; Oh! que idéia perdida. Oh! que mente tão errada, Dessa gente que enlevada Nessa fingida grandeza Junta montões de riqueza, E tudo vem a ser nada. Vemos um rico pomposo Afetando gravidade, Ali só reina bondade, Nesse mortal orgulhoso, Quer se fazer caprichoso, Vive de venta inchada, Sua cara empantufada, Só apresenta denodos Tem esses inchaços todos E tudo vem a ser nada. Trabalha o homem, peleja Mesmo a ponto de morrer, É somente para ter, Que ele se esmoreja, As vezes chove e troveja E ele nessa enredada À lama, ao sol, ao chuveiro, Ajuntam muito dinheiro, E tudo vem a ser nada. Temos palácios pomposos Dos grandes imperadores, Ministros e senadores, E mais vultos magestosos; Temos papas virtuosos De uma vida regrada, Temos também a espada De soberbos generais, Comandantes, Marechais, E tudo vem a ser nada. Honra, grandezas, brazões; Entusiasmos, bondades; São completas vaidades São perfeitas ilusões, Argumentos, discursões; Algazarra, palavrada, Sinagoga, caçoada, Murmúrios, tricas, censura, Muito tem a criatura, E tudo vem a ser nada. Vai tudo numa carreira Envelhece a mocidade, A avareza e a vaidade É quer queira ou não queira; Tudo se torna em poeira, Cá nesta vida cançada É uma lei promulgada Que vem pela mão Divina, O dever assim destina E tudo vem a ser nada. Formosuras e ilusões, Passa-tempos e prazeres; Mandatos, altos poderes; De distintos figurões, Cantilenas de salões; E festa engalanada, Virgem-donzela enfeitada No gozo de namorar, Mancebos a flautear, E tudo vem a ser nada. Lascivas, depravações Na imoral petulância, São enlevos da infância, São infames Corrupções; São fingidas seduções Que faz a dama enfeitada Influi-se a rapaziada Velhos também de permeio E vivem nesse paleio, E tudo vem a ser nada. Bailes, teatros, festins, Comadre, drama, assembléa, Club, liceu, epopéa; Todos aguardam seus fins, Flores, relvas e jardins, Festas com grande zuada, Outeiro e Campinada Frondam, compam e florescem, Brilham, luzem, resplandecem E tudo vem a ser nada. O homem se julga honrado, Repleto de garantia, De brazões e fidalguia É ele considerado, Mas, quanto está enganado Nesta ilusória pousada Cá nesta breve morada. Não vemos nada imortal Temos um ponto final; E tudo vem a ser nada. Tudo quanto se divisa Neste cruento torrão, As árvores, a criação, Tudo em fim se finaliza, Até mesmo a própria brisa, Soprando a terra escarpada, Com força descompassada Se transformando em tufão, Deita pau rola no chão, E tudo vem a ser nada. Infindo só temos Deus, Senhor de toda a grandeza, Dos céus e da natureza, De todos os mundos seus. Do Brasil, dos Europeus, Da terra toda englobada Até mesmo da manada Que vemos no arrebol: Nuvem, lua, estrela e sol, Tudo mais vem a ser nada.


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