O cochilo de linguagem de Pinto, falando "coidado", em vez de "cuidado", deu a Lourival a oportunidade de poder vingar-se do colega. E fulminou:
Pra não ter um só errado
Errei eu, erraste tu,
Errou Pinto do Monteiro
E louro do Pajeú
Nesta palavra "coidado",
Tire o "o" e bote o "u".
Em outra ocasião, cantando na cidade de Prata (PB) com Antônio Marinho do Nascimento, sogro de Lourival Batista, e outro gênio do repente, Pinto ouviu do companheiro a "provocação" que estava esperando:
Mas, tenha muito cuidado
Com as raposas daqui
Desfecho que, obviamente, tinha a ver com os animais: o medo que galinha tem de raposa. Pinto não se intimidou:
Aonde eu chego, não vi
Mal que não desapareça
Raposa que não se esconda
Bravo que não me obedeça
Letrado que não me escute
Cantor que não endoideça.
Em outra ocasião, Manoel Galdino Bandeira cantava com Pinto, em Jatobá, sertão paraibano, quando improvisou esta sextilha:
Pois, quem tem vindo ou estado
Aonde Bandeira mora
Se vem cantar, perde a rima
Porque lhe falta a sonora
Ensaca o pinho às carreiras
Se desculpa e vai embora.
Pinto não se deu por intimidado e arrebentou:
Posso ir a qualquer hora
Quando o tirar do engano
Vou pegar sua "bandeira"
Quebro o mastro, rasgo o pano
Pra lhe mostrar quem sou
Me transformo num tirano.
Era assim o velho Pinto: quanto mais capaz era o seu parceiro, mais ele gostava de enfrentá-lo, pois morreu sem conhecer derrota na difícil arte do improviso. É um poeta popular sobre quem pouco se estudou e se escreveu apesar do "mito" que representa para as novas gerações de cantadores que estão surgindo no Nordeste.
Ainda bem que Ivanildo Vilanova (cujo pai, José Faustino, foi parceiro de Pinto em várias cantorias) não esqueceu de homenageá-lo neste belíssimo comercial feito para uma rede de supermercado:
Pelo vaqueiro que vaga
Por Pinto e sua viola
Por Zumbi, o Quilombola
Conselheiro e sua saga
Pelo baião de Gonzaga
E a luta de Virgolino
O barro de Vitalino
Pelo menino de engenho
Por isso tudo é que tenho
(Orgulho de ser nordestino)