A FAZENDA
Seis horas... Salto do leito,
Que céu azul ! que bom ar !
Ai, como sinto no peito,
Moço, vivo, satisfeito,
O coração a cantar !
No meu quarto, alegre e claro,
Há rosas e girassóis.
Eu, com enlevo, reparo
No mínimo do seu preparo,
Na alvura dos seus lençois.
Que doce encanto, e que graça,
Nesta simples aldeã,
Tem sobre os vãos da vidraça,
Leves cortinas de cassa,
Bailando ao sol da manhã !
E da florida janela
Que eu abro de par em par,
--Verde painel, larga tela,
Da cor mais viva e mais bela,
Desdobra-se ao meu olhar !
A manhã que é fresca e branda,
A rir, gloriosa e feliz,
Doira a casa veneranda,
Com a sua quieta varanda
Cheirosa de bogaris...
Um renque de altos coqueiros
Circunda o velho pomar;
Toscos, enormes tabuleiros,
Ficam em frente os terreiros,
Com grãos em coco a secar.
Num quadro curvo e sozinho,
Um pobre negro, o Bié,
A passo devegarinho,
Com seu rumoroso ancinho,
Lá vai rodando o café...
Depois -- a máquina, a tulha,
O alpendre, o farto paiol:
Ah ! como a roça se orgulha
De ver subir a fagulha,
Que lança a máquina ao sol !
Branca, entre tufos, a escola
Na entrada logo se vê:
Aí, nessa casinhola,
A filha de nhá Carola
Vive a ensinar o A B C.
Fulgem na estrada tranqüila,
Casinhas brancas de cal:
É a colonia que cintila,
Graciosa como uma vila,
Risonha como um pombal.
Ao longe, o pasto, a cancela,
-- Um boi deitado no chão:
Paisagem rude e singela,
Daria fina aquarela,
De puro estilo aldeão.
E além para lá da ponte,
Ao lado do matagal,
Por sobre as lombas do monte,
Por todo o imenso horizonte,
-- Alastra-se o cafezal.
O olhar, tonto, se extasia,
Na cena rústica e chã;
E a gente sente a poesia,
Sente a radiosa alegria
De tão soberba manhã !
Absorto no panorama
Que assim contemplo, de pé.
Eis que uma velha mucama,
Surgindo à porta me chama:
"Nhonhô, tá pronto o café..."
(Alma Cabocla)
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