Palmyra  Wanderley

Nordeste
                  
 
Que mais feliz o teu destino fosse,
do que sujeito ao sol que te consome.
Pedes na seca a esmola de água doce
e um pedaço de pão porque tens fome.

Sumiu-se a voz do boiadeiro, mudo.
Secaram as fontes que aleitavam o rio.
No desespero de quem perde tudo
fecha a porteira do curral vazio.

Teus lábios racham, ao travo das raízes.
carregas o destino de infelizes,
rasgando os ombros nus, nos espinheiros...

Enquanto arquejas, maltratado, langue,
a terra tísica vai golfando sangue,
pela boca vermelha dos cardeiros.

 
                                                                          
Remetente: Walter Cid

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  31  de Março de 1998