Rosani Abou Adal


Madrugada

Na placidez da noite, o apito do guarda-noturno. Um silvo longo e um breve. A cadela ladra assustada com medo da madrugada cálida. Deitada no meio da rua, de pernas para o alto, a gata se lambe sossegada, tranqüila. Um sibilo agudo se faz presente na solidão noturna. Nas casas silenciosas as pessoas dormem, cerradas entre quarto paredes, revelam os segredos da familiaridade. A gata permanece sobre o asfalto fazendo confidências individuais. A cadela frente ao portão assiste a quietude da noite. O homem sonha profundo, o colchão grita frases de amor. O guarda da noite vigia as casas, observa as amigas da vida noturna. Em frente à minha janela assovia três vezes e prossegue a caminhada. Acompanhada do meu isolamento escuto silvos e observo as pessoas caladas em suas privacidades. Deitada no meu leito, coberta com meu manto, repouso com sofreguidão. A gata, a cadela, o guarda, companheiros da madrugada.


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