Rosani Abou Adal


Brahma

O piano tocava notas melodiosas que vibravam das mãos suaves. O chope e o bolinho de bacalhau sobre a mesa. Vozes murmuravam nos bancos rubros. Abajures solitários iluminavam a expressão sem sorriso das lâmpadas. O zunzum do happy-hour, a falação dos corpos cansados, as gargalhadas que se equilibravam no ambiente ébrio como plumas, deslizavam no vácuo sem fronteiras. O piano não parava de sussurrar notas e mais notas harmoniosas. Don't Cry for me Argentina gritavam as teclas brancas e pretas. Gravatas borboletas conduziam copos de levedura e tira-gosto para acalentar as peles vermelhas, brancas, amarelas e negras que se apoiavam na privacidade de um assento frio/quente. Homens de negócios, secretárias, profissionais liberais, poetas e artistas compartilhavam o do-re-mi-fá-sol-lá-si-do, falavam de suas tristezas, angústias, felicidades, frustrações, alegrias, de mais um dia de trabalho, de negócios satisfatórios ou sem frutos, de prazeres, desamores, de... Eu acompanhada da esferográfica esperava teus passos ofegantes pousarem sobre os pelos gastos do tapete.


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