Raimundo Correia
Ser Moça e Bela Ser
				Ser moça e bela ser, por que é que lhe não basta?
				Porque tudo o que tem de fresco e virgem gasta
				E destrói?  Porque atrás de uma vaga esperança
				Fátua, aérea e fugaz, frenética se lança
				A voar, a voar?...
				Também a borboleta,
				Mal rompe a ninfa, o estojo abrindo, ávida e inquieta,
				As antenas agita, ensaia o vôo, adeja;
				O finíssimo pó das asas espaneja;
				Pouco habituada à luz, a luz logo a embriaga;
				Bóia do sol na morna e rutilante vaga;
				Em grandes doses bebe o azul; tonta, espairece
				No éter; voa em redor, vai e vem; sobe e desce;
				Torna a subir e torna a descer; e ora gira
				Contra as correntes do ar, ora, incauta, se atira
				Contra o tojo e os sarcais; nas puas lancinantes
				Em pedaços faz logo às asas cintilantes;
				Da tênue escama de ouro os resquícios mesquinhos
				Presos lhe vão ficando à ponta dos espinhos;
				Uma porção de si deixa por onde passa,
				E, enquanto há vida ainda, esvoaça, esvoaça,
				Como um leve papel solto à mercê do vento;
				Pousa aqui, voa além, até vir o momento
				Em que de todo, enfim, se rasga e dilacera.
				ó borboleta, pára! ó mocidade, espera!
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