Raimundo Correia

Plenilúnio

Além nos ares, tremulamente, Que visão branca das nuvens sai! Luz entre as franças, fria e silente; Assim nos ares, tremulamente, Balão aceso subindo vai... Há tantos olhos nela arroubados, No magnetismo do seu fulgor! Lua dos tristes e enamorados, Golfão de cismas fascinador! Astros dos loucos, sol da demência, Vaga, noctâmbula aparição! Quantos, bebendo-te a refulgência, Quantos por isso, sol da demência, Lua dos loucos, loucos estão! Quantos à noite, de alva sereia O falaz canto na febre a ouvir, No argênteo fluxo da lua cheia. Alucinados se deixam ir... Também outrora, num mar de lua, Voguei na esteira de um louco ideal; Exposta aos éolos a fronte nua, Dei-me ao relento, num mar de lua, Banhos de lua que fazem mal. Ah! quantas vezes, absorto nela, Por horas mortas postar-me vim Cogitabundo, triste, à janela, Tardas vigílias passando assim! E assim, fitando-a noites inteiras, Seu disco argênteo na alma imprimi; Olhos pisados, fundas olheiras, Passei fitando-a noites inteiras, Fitei-a tanto, que enlouqueci! Tantos serenos tão doentios, Friagens tantas padeci eu; Chuva de raios de prata frios A fronte em brasa me arrefeceu! Lunárias flores, ao feral lume, — Caçoilas de ópio, de embriaguez — Evaporaram letal perfume... E os lençóis d'água, do feral lume Se amortalhavam na lividez... Fúlgida névoa vem-me ofuscante De um pesadelo de luz encher, E a tudo em roda, desde esse instante, Da cor da lua começo a ver. E erguem por vias enluaradas Minhas sandálias chispas a flux... Há pó de estrelas pelas estradas... E por estradas enluaradas Eu sigo às tontas, cego de luz... Um luar amplo me inunda, e eu ando Em visionária luz a nadar, Por toda a parte, louco, arrastando O largo manto do meu luar...


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