Jornal de Poesia
Raimundo Braga Martins
ambb@usa.net
I
O mistério,
num estranho himeneu
com a natureza
que desafia a inteligência
humana,
deu à luz Maquiné,
há milênios
de anos,
dentro de um dédalo
imenso
(que ao labirinto de
Creta se assemelha),
com sete salões
de esculturas naturais repletos,
em cujo solo pisamos,
sinuoso e sem fim,
de aclives e declives
cheio
como um corpo de serpente
que caminha e coleia...
que se abaixa e que se
alteia para nos mostrar:
piscinas naturais imensas,
secas na SECA e na CHEIA
cheias
de águas,
copiosas,
que não vêm
das chuvas na enxurrada,
mas brotam,
misteriosas,
das paredes rochosas
das crateras!
Novamente,
a serpente em que pisamos
caminha e coleia...
se abaixa e se alteia
para nos mostrar:
estalactites que descem,
estalagmites que sobem,
milenárias,
na extensão das
galerias e na extensão do tempo
em que o mistério
e a natureza
parecem copular para
as procriar!
...E a serpente em que
pisamos
lentamente caminha e
coleia...
se abaixa e se alteia
para nos mostrar:
formações
calcárias que ao contraste das luzes
- artificial e natural
- mudam de cor,
a cada instante,
ora verdes como a esmeralda...
ora brancas como o diamante!
Aqui:
um cogumelo atômico,
um candelabro com pingentes
longos de cristal;
O Trono das Fadas...
e nele sentada
uma mulher com a cabeça
reclinada.
O Bolo da Noiva...
O Véu da Noiva
que a noiva traz na cabeça de onde se
Desata
e desce,
diáfano,
como as cristalinas águas
da cascata!
Ali:
o Púlpito, uma
tíbia, uma caveira humana;
um carneiro gigante...
um lobo, um morcego,
uma águia, um elefante;
e mais adiante, no quinto
salão, a coluna multicor...
Uma estalactite grande
apontando para o chão,
de onde,
com os nós dos
dedos arrancamos
um som de bronze cristalino
como o ressoar de um
sino
que na voz do eco repercute.
...E o corpo da serpente
em que pisamos
ainda caminha e coleia...
se abaixa e se alteia
para nos mostrar:
um presépio pequenino
com os pastores, a Virgem
e o Menino;
e, como se a História
quisesse recordar,
aparece a Virgem-mãe
com o Filho morto ao colo
numa expressão
de dor da Pietá!
Eis, numa parca pincelada,
com as tintas e as cores
da poesia,
a Gruta de Maquiné
por dentro retratada.
I I
O tempo,
que as pirâmides
do Egito contemplou
- que não foi
o meu, o teu, o nosso tempo –
há quarenta séculos
passados...
dois mil anos, portanto,
antes de Cristo,
é o mesmo tempo
que esta gruta tem de idade...
(A História
não registra o fato,
foram as pesquisas que
o descobriram).
A mitologia antiga criou
e concebeu
numa fantasia dos deuses,
numa invencionice,
"que na primeira hierogamia
do Céu com a Terra
o Céu e
a Terra copularam... e nasceu o Caos!"
Assim também
nos nossos dias, num milagre da fé,
sem mito, sem fantasia,
assistimos, num deslumbramento,
ao mistério casar-se
com a natureza; e,
no tálamo da realeza,
dar à luz Maquiné!
Que mistério
profundo...
Que beleza deslumbrante
a mão de Deus num milagre
produziu
quando as portas da gruta
aos olhos do mundo abriu!
...E o mundo extático
sentiu
dos orixás o axé(!)
na união do mistério
com a natureza que deu à luz
Maquiné!
Mas coube a Peter Lund
como ao genovês:
- "Vai, Colombo, abre
a cortina da minha eterna oficina
e tira a América
de lá"-
a glória de descobrir
Maquiné...
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