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Página atualizada em 04.09.1999
Rubem Braga
 
 Biografia: 
 
 

Na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-feira, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos. 

A causa da morte foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente. Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde
moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade
de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932,
depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais -- no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.

Na capital mineira se casou, em 1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu único filho Roberto Braga. Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945, sendo que lá fez amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro, primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos; depois, numa casa no Posto Seis, em Copacabana, e por fim num apartamento na Rua Barão da Torre, em Ipanema. Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão. Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio. Na crônica-título, escreveu: "A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde." De fato, quase tanto como pelos seus livros, o cronista
ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por gostar da solidão.

Como escritor, Rubem Braga teve a característica singular de ser o único autor
nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem almeja a posteridade.

Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma descrição de si
mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o
marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é
uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado
de funcionamento."  Foi com Fernando Sabino e Otto Lara Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a editora Sabiá, responsável pelo lançamento no Brasil de escritores
como Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges. Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos textos de Rubem Braga é a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."
A chave para entendermos a popularidade de sua obra, toda ela composta de
volumes de crônicas sucessivamente esgotados, foi dada pelo próprio escritor: ele gostava de declarar que um dos versos mais bonitos de Camões ("A grande dor das coisas que passaram") fora escrito apenas com palavras corriqueiras do idioma. Da mesma forma, suas crônicas eram marcadas pela linguagem coloquial e pelas temáticas simples. 

Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com
os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá, disse: "O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e
fazia isto mantendo um grande apelo popular. 

        Remetida por 
Maria Marta Navarro Barra <marta@almg.gov.br>




Poemas de Rubem Braga
Remetidos por
Jacqueline Guimaraes Ferreira

 
 
  
“O que ele nos conta é o seu dia, o seu expediente de homem, apanhado no essencial, narrativa direta e econômica. Sua novidade perene está nessa adesão ao vivo, sonho e alienação. É o poeta do real, do palpável, que se vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da realidade e o remédio para ela”
Carlos Drummond de Andrade

POETA CRISTÃO

A poesia anda mofina,
Mofina, mas não morreu.
Foi o anjo que morreu:
Anjo não se usa mais.
Ainda se usa estrela
Se usa estrela demais.

Poeta religioso
Mocinha não pode ler:
Pecará em pensamento,
Que o poeta gosta do Novo,
Mas pilha seus amoricos
É no Velho Testamento.

Ai, o Velho Testamento!
Eu também faço poema,
Ora essa, quem não faz:
Boto uma estrela na frente
E um pouco de mar atrás.

Boto Jesus de permeio
Que Deus, nos pratos de amor,
É um excelente recheio.
E isso bem posto e disposto
Me vou aos peitos da Amada:
Sulamita, Sulamita,
Por ti eu me rompo todo,
Sou cavalheiro cristão.
Minh’alma está garantida
Num rodapé do Tristão
E o corpo? O corpo é miséria,
Peguei doença, mas Jorge
de Lima dá injeção!

O badalo está chamando,
Bão-ba-la-lão.

Amada, não vai lá não!
Eu também tenho badalos –
Bão-ba-la-lão
Eu sou poeta cristão!
(Rio, maio, 1940)



AQUELA MULHER


O médico me levou até o elevador.
Quando cheguei à rua
Sabia que já não estava condenado a morrer.
Mas as horas de perigo, de certeza da morte,
De preparação para a morte,
As horas da morte ainda batiam dentro de mim.
Nessas horas a vida recuara ante meus olhos,
Cheia
De suas fascinações, tristezas e ternuras,
Estava orgulhoso de mim mesmo.
De meu pensamento viril diante da morte,
Da força de meu ódio aos inimigos que eu pensara em matar antes de morrer.
Do amor, do grande e comovido amor
Com que eu me despedia em silência de vós, almas queridas,
Almas queridas a que jamais servi bem.
Ia pela rua, mas ainda ia a meu lado
A sombra sem terror mas inapelável
Da morte.
Foi então que passou a desconhecida mulher
Abençoada eternamente seja essa mulher!
Uma alta, bela, desconhecida mulher
Que andava com seu andar de desconhecida mansa
Seus finos cabelos negros brilhavam ao sol
E seus olhos eram claros como a vida que renascia.
No seu corpo havia a doce dignidade essencial
Que é a marca suprema da beleza na mulher.
Eu a fitei, eu detive os seus olhos com os meus,
Foi apenas um segundo.
Ela não desviou os seus,
Apenas continuou na sua marcha mansa
Não sentiu nos meus olhos a aflição deslumbrada
A ansiosa descoberta, a impressão de milagre
Nos meus olhos ressucitados que saudavam
E abençoavam, abençoavam ardentemente sua natureza de mulher.
Eu estava tão sólido em face da morte,
De minha morte, de minha obscura morte,
Estava tão sólido, firme, bem plantado e certo
Perante a morte – e agora
Era como se a vida como alta onda desabasse
Sobre mim, e num instante
Senti toda a sua força furiosa, o desespero, a beleza,
A ânsia que não tem fim, a sede, a dolorosa
Exaltação que sempre foi a vida para mim,
A tonteira cruel, a coragem, a promessa
O que ela me dá, o que tomo, o que roubo,
O que espero, e tudo, tudo o que eternamente desespero.
Senti-me fraco, miserável, diante da vida,
À mercê da sua força inelutável, da atração
Cruel com que me chama todo dia.
Senti a sua exasperante incerteza,
Senti num instante toda a sua longa, longa,
Mortificante melancolia.
Fazia sol na rua.
Dois homens pararam me olhando. Eu olhava
Longe – com meu olhar ressuscitado
Que de longe, muito longe, ainda
Abençoava aquela mulher.
(São Paulo, 1941)



SONETO

E quando nós saímos era a Lua,
Era o vento caído e o amr sereno
Azul e cinza-azul anoitecendo
A tarde ruiva das amendoeiras.

E respiramos, livres das ardências
Do sol, que nos levara à sombra cauta
Tangidos pelo canto das cigarras
Dentro e fora de nós exasperadas.

Andamos em silêncio pela praia.
Nos corpos leves e lavados ia
O sentimento do prazer cumprido.

Se mágoa me ficou na despedida
Não fez mal que ficasse, nem doesse –
Era bem doce, perto das antigas.
(1947)




AO ESPELHO

Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.

Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.

Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.

Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido.
(1957)



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