Ninguém pode ficar indiferente a esse trabalho hercúleo que
o escritor piauiense vem desenvolvendo há quatro anos, em meio a
todas as dificuldades relacionadas com a pesquisa, num país sem
memória, com bibliotecas despreparadas e lacunosas, com os próprios
escritores arredios quanto à divulgação de sua obra.
Quero me referir à Coleção Poesia Brasileira de antologias
estaduais, que têm saído com o selo da prestigiosa Imago Editora,
ao lado, na maioria das vezes, de entidades públicas locais, que
têm valorizado, assim, não só o trabalho do escritor,
como a sua própria atuação na área da literatura
brasileira. E o que se tem visto é um amplo e positivo sucesso do
empreendimento, não fosse Assis Brasil, desde sempre, um ativo batalhador
em prol da divulgação de nossa literatura.
Pois agora está saindo dos prelos da Imago a oitava antologia da
Coleção: A Poesia Mineira no Século XX . Antes haviam
saído as antologias do Maranhão, Piauí, Ceará,
Goiás, Amazonas, Fluminense, Rio Grande do Norte . Já consolidadas
com suas respectivas co-editoras, sairão em seguida as antologias
do Espírito Santo, Sergipe e Bahia. Já são onze volumes
exemplares, num trabalho de empreendimento editorial sem par no país
e em muitos outros. E´ de se salientar que as antologias saem com
estudo introdutório sobre a evolução da poesia local
e suas possíveis vinculações com o panorama geral
da literatura brasileira e mais verbetes esclarecedores sobre a posição
estética de cada poeta.
Sem dúvida, as antologias distribuídas pelas principais livrarias
do país com as dificuldades de praxe no país dos economistas
têm um cunho paradidático, com a historiografia e a estética
conformando os estudos, que se com pletam com uma amostragem significativa
da obra dos poetas antologiados e suas respectivas bibliografias. Qualquer
uma delas Maranhão, Piauí, Ceará, Goiás, Amazonas,
Fluminense, Rio Grande do Norte trazem o retrato por inteiro da poesia
praticada em cem anos de história literária dos respectivos
Estados. São nomes que já romperam as fronteiras literárias
de sua província, bem como outros que até então se
vinculavam ao estreito círculo das edições locais
e que precisavam de uma divulgação melhor. Por outro lado,
nos estudos que Assis Brasil empreende nas introduções das
antologias, ficamos sabendo, de maneira objetiva e esclarecedora, como
a poesia tem sido praticada em todos os recantos do país, com a
ampliação de um panorama não mais restrito ao fechado
eixo Rio/São Paulo, que tem representado, via de regra, toda a literatura
brasileira. Nada mais irreal do que isso.
Então temos aqui outra fascinante antologia, a dedicada a Minas
Gerais, que estranhamente sai sem o respaldo de qualquer entidade pública
cultural do Estado. Sem entrar no mérito do desinteresse provinciano
o que não aconteceu até agora com Maranhão, Piauí,
Ceará, Goiás, Fluminense, Rio Grande do Norte a antologia
do Amazonas sofreu o mesmo revés e foi co-editada pela Fundação
Biblioteca Nacional . A Poesia Mineira no Século XX alinha 75 poetas
de sua história dos últimos cem anos, desde o seu alvorecer
com Augusto de Lima, Alphonsus de Guimarães e Severino de Resende,
passando pelas gerações subsequentes, até atingir
os poetas mais jovens, que estão hoje na faixa dos trinta anos.
Destaque para o trabalho de Assis Brasil é que ele não privilegia
este ou aquele grupo ou aquela geração, dando destaque para
os melhores poetas do seu tempo como é o caso dos dois grupos vanguardistas
de Cataguases, como Enrique de Resende, Ascânio Lopes, Guilhermino
César, Francisco Inácio Peixoto, Rosário Fusco, que
representam o primeiro modernismo mineiro. O outro grupo sai para experiências
visuais, com a palavra ou com as artes plásticas, , nomes como os
de Joaquim Branco, P.J. Ribeiro, Aquiles Branco, Ronaldo Werneck, lembrando
ainda Francisco Marcelo Cabral e Lina Tâmega del Peloso. São
nomes importantes da literatura brasileira que ressurgem agora pelas mãos
mágicas de Assis Brasil. Para nos determos na área regionalista,
a literatura mineira é muito rica e o demonstram esses cem anos
de sua poesia, que o autor soube destacar em nomes ainda como os de Murilo
Araújo, Murilo Mendes, Emílio Moura, Carlos Drummond de Andrade,
Abgar Renault, Henriqueta Lisboa, Bueno de Rivera, Dantas Mota, Alphonsus
de Guimaraens Filho, Affonso Ávila, Laís Corrêa de
Araújo, Adélia Prado, Affonso Romano de Sant’Anna, Aricy
Curvello, Wladimir Diniz, Donizete Galvão, Carlos Ávila,
Iacyr Anderson Freitas, Edmilson de Almeida Pereira, Wilmar Silva. Todas
as gerações representadas. As omissões, na maioria
das vezes involuntárias, como costuma dizer Assis Brasil, são
tranqüilamente supridas pelos nomes selecionados que dão uma
visão panorâmica dos escritores regionais e dos que conseguiram
sair da casca do ovo da província.
Assis Brasil até agora, e já está com a metade das
antologias prontas, do seu amplo mapeamento poético brasileiro selecionou
perto de 700 poetas, que mostram, sem dúvida, a riqueza da literatura
brasileira em todos os quadrantes do Brasil, aqueles mais conhecidos e
os menos, estes por via de uma política cultural centralizadora,
que tem elegido por falta de conhecimento o Rio de Janeiro e S.Paulo como
central da história da literatura brasileira. Assis Brasil, entre
outros inúmeros méritos de seu panorama, deu um basta nesta
situação vexatória, e todos devemos agradecer a ele,
nós simples leitores, críticos literários, historiadores,
estudantes de Letras, professores, o público em geral interessado
em literatura. Para os que se espantam com o número de poetas brasileiros
e virão outros 700 e que não têm ficado à vontade
com tanta “concorrência”, o próprio Assis Brasil, em suas
palestras sobre as antologias, tem destacado a edição, recente,
de uma antologia poética de língua inglesa , que tem circulado
na Europa e Estados Unidos, e que reúne nada menos de 2 mil e 500
poetas. Enfim, este empreendimento de Assis Brasil merece o apoio de todos
e suas antologias precisam circular por todas as bibliotecas do país,
sem preconceitos, sem bairrismos, o que só engrandecerá a
nossa literatura, que sem dúvida alguma é uma das melhores
do mundo e onde se pratica ¾ ontem, hoje, amanhã ¾
a melhor poesia.
* Reynaldo Dias Jr. é
crítico literário e professor de Literatura no Departamento
de Letras, da Universidade Federal Fluminense.)
Este ensaio foi publicado
nos seguintes jornais e revistas:
1. Jornal Meio Norte , Teresina
( PI ) , 2 out. 1998
2. O Estado do Maranhão
, São Luís , 7 out. 1998
3. O Escritor- Jornal da
União Brasileira de Escritores n.86 , S. Paulo, jan. 1999, p.15
4. Poiésis Literatura,
Pensamento & Arte n. 67 ano VII, Petrópolis (RJ) , jan. 999,
p. 10
5. Correio do Sul n. 7859
ano 54 , Varginha (MG), 28 jan. 1999, p. 5
6. Literatura - Revista
do Escritor Brasileiro n. 16 ano VIII, Brasília, jun 1999, pp. 28-30.
7. Nanico n. 20 . São
Paulo, set. 1999 , pp. 60-61
8. A Figueira n .79 ano
IX , Florianópolis, set . 1999 , pp. 11-13 . |