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Página atualizada em 28.06.2000

 
Reynaldo Dias Jr
O MAPA POÉTICO CONTINUA

 

Remetido por Aricy Curvello
curvello.vix@zaz.com.br
                  Ninguém pode ficar indiferente a esse trabalho hercúleo que o escritor piauiense vem desenvolvendo há quatro anos, em meio a todas as dificuldades relacionadas com a pesquisa, num país sem memória, com bibliotecas despreparadas e lacunosas, com os próprios escritores arredios quanto à divulgação de sua obra. Quero me referir à Coleção Poesia Brasileira de antologias estaduais, que têm saído com o selo da prestigiosa Imago Editora, ao lado, na maioria das vezes, de entidades públicas locais, que têm valorizado, assim, não só o trabalho do escritor, como a sua própria atuação na área da literatura brasileira. E o que se tem visto é um amplo e positivo sucesso do empreendimento, não fosse Assis Brasil, desde sempre, um ativo batalhador em prol da divulgação de nossa literatura. 

                  Pois agora está saindo dos prelos da Imago a oitava antologia da Coleção: A Poesia Mineira no Século XX . Antes haviam saído as antologias do Maranhão, Piauí, Ceará, Goiás, Amazonas, Fluminense, Rio Grande do Norte . Já consolidadas com suas respectivas co-editoras, sairão em seguida as antologias do Espírito Santo, Sergipe e Bahia. Já são onze volumes exemplares, num trabalho de empreendimento editorial sem par no país e em muitos outros. E´ de se salientar que as antologias saem com estudo introdutório sobre a evolução da poesia local e suas possíveis vinculações com o panorama geral da literatura brasileira e mais verbetes esclarecedores sobre a posição estética de cada poeta. 

                  Sem dúvida, as antologias distribuídas pelas principais livrarias do país com as dificuldades de praxe no país dos economistas têm um cunho paradidático, com a historiografia e a estética conformando os estudos, que se com pletam com uma amostragem significativa da obra dos poetas antologiados e suas respectivas bibliografias. Qualquer uma delas Maranhão, Piauí, Ceará, Goiás, Amazonas, Fluminense, Rio Grande do Norte trazem o retrato por inteiro da poesia praticada em cem anos de história literária dos respectivos Estados. São nomes que já romperam as fronteiras literárias de sua província, bem como outros que até então se vinculavam ao estreito círculo das edições locais e que precisavam de uma divulgação melhor. Por outro lado, nos estudos que Assis Brasil empreende nas introduções das antologias, ficamos sabendo, de maneira objetiva e esclarecedora, como a poesia tem sido praticada em todos os recantos do país, com a ampliação de um panorama não mais restrito ao fechado eixo Rio/São Paulo, que tem representado, via de regra, toda a literatura brasileira. Nada mais irreal do que isso. 

                  Então temos aqui outra fascinante antologia, a dedicada a Minas Gerais, que estranhamente sai sem o respaldo de qualquer entidade pública cultural do Estado. Sem entrar no mérito do desinteresse provinciano o que não aconteceu até agora com Maranhão, Piauí, Ceará, Goiás, Fluminense, Rio Grande do Norte a antologia do Amazonas sofreu o mesmo revés e foi co-editada pela Fundação Biblioteca Nacional . A Poesia Mineira no Século XX alinha 75 poetas de sua história dos últimos cem anos, desde o seu alvorecer com Augusto de Lima, Alphonsus de Guimarães e Severino de Resende, passando pelas gerações subsequentes, até atingir os poetas mais jovens, que estão hoje na faixa dos trinta anos. 

                  Destaque para o trabalho de Assis Brasil é que ele não privilegia este ou aquele grupo ou aquela geração, dando destaque para os melhores poetas do seu tempo como é o caso dos dois grupos vanguardistas de Cataguases, como Enrique de Resende, Ascânio Lopes, Guilhermino César, Francisco Inácio Peixoto, Rosário Fusco, que representam o primeiro modernismo mineiro. O outro grupo sai para experiências visuais, com a palavra ou com as artes plásticas, , nomes como os de Joaquim Branco, P.J. Ribeiro, Aquiles Branco, Ronaldo Werneck, lembrando ainda Francisco Marcelo Cabral e Lina Tâmega del Peloso. São nomes importantes da literatura brasileira que ressurgem agora pelas mãos mágicas de Assis Brasil. Para nos determos na área regionalista, a literatura mineira é muito rica e o demonstram esses cem anos de sua poesia, que o autor soube destacar em nomes ainda como os de Murilo Araújo, Murilo Mendes, Emílio Moura, Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Henriqueta Lisboa, Bueno de Rivera, Dantas Mota, Alphonsus de Guimaraens Filho, Affonso Ávila, Laís Corrêa de Araújo, Adélia Prado, Affonso Romano de Sant’Anna, Aricy Curvello, Wladimir Diniz, Donizete Galvão, Carlos Ávila, Iacyr Anderson Freitas, Edmilson de Almeida Pereira, Wilmar Silva. Todas as gerações representadas. As omissões, na maioria das vezes involuntárias, como costuma dizer Assis Brasil, são tranqüilamente supridas pelos nomes selecionados que dão uma visão panorâmica dos escritores regionais e dos que conseguiram sair da casca do ovo da província.

                  Assis Brasil até agora, e já está com a metade das antologias prontas, do seu amplo mapeamento poético brasileiro selecionou perto de 700 poetas, que mostram, sem dúvida, a riqueza da literatura brasileira em todos os quadrantes do Brasil, aqueles mais conhecidos e os menos, estes por via de uma política cultural centralizadora, que tem elegido por falta de conhecimento o Rio de Janeiro e S.Paulo como central da história da literatura brasileira. Assis Brasil, entre outros inúmeros méritos de seu panorama, deu um basta nesta situação vexatória, e todos devemos agradecer a ele, nós simples leitores, críticos literários, historiadores, estudantes de Letras, professores, o público em geral interessado em literatura. Para os que se espantam com o número de poetas brasileiros e virão outros 700 e que não têm ficado à vontade com tanta “concorrência”, o próprio Assis Brasil, em suas palestras sobre as antologias, tem destacado a edição, recente, de uma antologia poética de língua inglesa , que tem circulado na Europa e Estados Unidos, e que reúne nada menos de 2 mil e 500 poetas. Enfim, este empreendimento de Assis Brasil merece o apoio de todos e suas antologias precisam circular por todas as bibliotecas do país, sem preconceitos, sem bairrismos, o que só engrandecerá a nossa literatura, que sem dúvida alguma é uma das melhores do mundo e onde se pratica ¾ ontem, hoje, amanhã ¾ a melhor poesia. 

* Reynaldo Dias Jr. é crítico literário e professor de Literatura no Departamento de Letras, da Universidade Federal Fluminense.) 

Este ensaio foi publicado nos seguintes jornais e revistas:

1. Jornal Meio Norte , Teresina ( PI ) , 2 out. 1998 
2. O Estado do Maranhão , São Luís , 7 out. 1998
3. O Escritor- Jornal da União Brasileira de Escritores n.86 , S. Paulo, jan. 1999, p.15
4. Poiésis Literatura, Pensamento & Arte n. 67 ano VII, Petrópolis (RJ) , jan. 999, p. 10
5. Correio do Sul n. 7859 ano 54 , Varginha (MG), 28 jan. 1999, p. 5
6. Literatura - Revista do Escritor Brasileiro n. 16 ano VIII, Brasília, jun 1999, pp. 28-30.
7. Nanico n. 20 . São Paulo, set. 1999 , pp. 60-61
8. A Figueira n .79 ano IX , Florianópolis, set . 1999 , pp. 11-13 .

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