Ricardo Madeira
Frio e Só
(COMO SEMPRE)
A criança alegre e divertida
Deixou de acreditar no Pai Natal,
As prendas na sua longa lista não foram recebidas,
E o fiel cão jaz espalmado na estrada.
O espelho mostra algo de errado,
O adolescente espreme da cara a borbulha,
Mas nada muda.
O reflexo não mente, falta algo na sua vida,
Certifica-se que ainda o tem entre as pernas
E deixa a barba crescer...
Não resulta...
Homem sem amigos,
Achados e perdidos,
Gastando tudo o que pode
(Não necessariamente por ordem alfabética)
Em bebida e mulheres.
O velho ainda não sabe o que é a vida,
Chora sobre cabelo caído
Enquanto coça os genitais
(Agora, lamentavelmente, só com função urinária),
Desejando...
A morte...
Autópsia, médicos
Procuram estupefactos no peito frio cadáver
Um músculo há muito atrofiado,
Que nunca bateu...
O nome na sepultura
Por nenhum dos nove filhos bastardos lembrado,
Deixado abandonado para apodrecer
Frio e só...
Como sempre...
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