Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura
e doutrina
européias
e europeu me chamam.
Não sei se o que
escrevo tem raiz a raiz de algum
pensamento europeu.
É provável
... Não. É certo,
mas africano sou.
Pulsa-me o coração
ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão
de coordenadas geográficas
e mar Índico.
Rosas não me dizem
nada,
caso-me mais à
agrura das micaias
e ao silêncio longo
e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu?
Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há
savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues
e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola
estalando. |