Rodrigues Lobo
de "A Primavera"
já nasce o belo dia,
Princípio do verão formoso e brando,
Que com nova alegria
Estão denunciando
As aves namoradas
Dos floridos raminhos penduradas.
já abre a bela aurora,
Com nova luz, as portas do oriente;
E mostra a linda Flora
O prado mais contente
Vestido de boninas
Aljofrado de gotas cristalinas.
Já o sol mais formoso
Está ferindo as águas prateadas;
E zéfiro queixoso
Ora as mostra encrespadas
À vista dos penedos,
Ora sobre elas move os arvoredos.
De reluzente areia
Se mostra mais formosa a rica praia,
Cuja riba se arreia
Do álamo e da faia,
Do freixo e do salgueiro,
Do olmo, da aveleira, e do loureiro.
já com rumor profundo
Não soa o Lis nos montes seus vizinhos;
Antes no claro fundo
Mostra os alvos seixinhos,
E os peixes que nas veias
Deixam, tremendo, a sombra nas areias.
já sem nuvens medonhas
Se mostra o céu vestido de outras cores,
já se ouvem as sanfonhas
E flauta dos pastores
Que vão guiando o gado
Pela fragosa serra, e pelo prado.
Já nas largas campinas,
E nas verdes descidas dos outeiros,
Ao som das sanfoninas,
Cantam os ovelheiros,
Enquanto os gados pascem
As mimosas ervinhas que renascem.
Sobre a tenra verdura
Agora os cabritinhos vão saltando,
E sobre a fonte pura
Passa a noite cantando
O rouxinol suave
Com saudoso acento agudo e grave.
Diana mais formosa,
Sem ventos, sobre as águas aparece,
E faz que a noite irosa
Tão clara resplandece
À vista das estrelas,
Que se envergonha o sol à vista delas.
Tudo nesta mudança,
Qual em sua esperança,
Também de novo cobra novo estado;
E qual em seu cuidado
Acha contentamento;
Qual melhora na vida o pensamento.
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