Ricardo Máximo
Biografia -
Gisálio Cerqueira
<gisalio@antares.com.br>
escreve sobre a poesia de
Ricardo Máximo
COM RENOVADA ESPERANÇA
Ricardo Máximo é um poeta de mão cheia. Desde que
publicou "O seculo
XXI como antídoto",
em 1982, e foi saudado por Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde),
no JORNAL DO BRASIL, como "poeta ainda desconhecido, mas de raro valor
trágico, lírico e satírico" (1983), não tem
cessado de provocar perplexidade e mesmo um certo estupor a tantos quantos
dele se aproximam. Assim tem sido com Pedro Nava, Moacyr Félix,
Franklim de Oliveira, Alfredo Bosi, para citar alguns dos mais expresssivos
críticos brasileiros, entre vivos e já falecidos.
No citado "Século XXI como antídoto" revelava-se como artesão
da palavra dotado de um expressionismo raro e impactante, que não
temia a esperança por mais duro e árduo que o presente se
anunciasse. Na "orelha" do livro via-se uma foto do poeta às margens
do Sena, com olhar divagante...Sobre isso e muito mais assim falou José
Saramago, escritor maior da língua portuguesa, Prêmio Nobel
de Literatura,1998: " Não me deem poesia, deem-me poetas! Ora, no
Século XXI como antídoto o que eu encontrei foi precisamente
o poeta, um tipo barbudo e cabeludo novíssimo que, na margem do
Sena, olhando oblíquo, parece dizer: Não façam caso,
não sou de cá, isto é
só Paris" (carta
de 12/XII/1983). Consta que o autor, nos anos que viveu e estudou na França,
devorava os dicionários esgrimindo com as palavras verdadeiras lutas
de viver ou morrer, hasta la victoria, siempre. Ofegante, faminto, sangrando,
muitas vêzes, mas íntegro sempre.
E é precisamente esta integridade que vem realçada agora
no seu novo "CANTOS ERECTOS", com bela capa de Jenny Raschle sobre ilustração
magnífica de Victor Brauner intitulada Origine de Vorba e
datada de 1946.
Lírico, dotado de rara sensibilidade o poeta está antenado.
Em IMAGO assim se pronuncia
O que era falo
hoje falópio
por amor de suas trompas...
Apresenta-se simultaneamente como instaurador da lei e, rebelde por
vocação, capaz
de subverte-la, pois
à lei poeta é averso
o poeta é o vetor do veto...
Armado de métaforas e metonímias, dança lúdica
constante de palavras,
ricas em sonoridade, que
ora nos fazem sorrir, ora, chorar, vai compondo uma
fala íntegra prenhe
de lusofonia mas que não resiste à latino-americanidade
azteca-maya-inca-aymará-quéchua-tupi.
Antes, integra-as de forma admirável.
Gisálio Cerqueira
Filho
Autor de "CHECAN" (poemas)
Ed. Ébano, Rio de
Janeiro, 1980.
Com ilustrações
de Madalena Jara
Uma pequena amostra de "CANTOS
ERECTOS"
DUAS AMÉRICAS
Há uma América do norte
E outra América do mórbido
Uma é América latrocina
Outra América Latina
Uma América acelerada
Outra a celerada e paulatina
Uma América da águia
Outra América da íngua
Uma América do mango
Outra América da míngua
Uma América legal
Outra América legista
Uma América do ludo
Outra América do luto
Uma América de cacifes
Outra América de caciques
Uma América o ócio
Outra América do bócio
Uma América da Cia
Outra América do cio
Uma América de saciados
Outra América de Sacis
Uma América de crepes
Outra América de crupes
Uma América de escritórios
Outra América de excretórios
Uma América sentinela
Outra América sentina
Uma América do Pentágfono
Outra América das poliagonias
Há uma América do Norte
Deus salgue esta América.
Outra América da morgue:
salvem-na os que pudermos.
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