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Novidades da semana


Página atualizada em 17.05.00
Um notícia: 
Precisamente navegando (navegar é preciso), encontrei o Jornal de Poesia. Interessou-me mandar-lhes alguns poemetos. Não tenho biografia na área, nem bibliografia. Sou roraimense, engenheiro civil e no próximo 15 de maio [2000], estarei cinquentão. Hoje, estou Secretário de Estado de Obras do Governo de Roraima.
  poemas
  1. Almas & corpos
  2. Buriti
  3. 19 de abril
  4. Águas de mágoas
  5. Vera
  6. O que sou
  7. Roma & G-7 & índio
  8. Reminiscências
  9. Sampaulim
  10. Águas & fogo
  11. Caimbé
  12. Chão da mata
  13. Hipocratos


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Almas e corpos

Amar é se doar,
é bem-querer,
é a brisa do ar
a enlevar o ser
que ama.
Também é chama,
paixão, é química
de querer e corpos;
fusão anímica,
alimária, hormonal,
fluida
e túmida! 
É possuir, possuída... É beijo...
Beijo d’alma, é desejo,
é brisa em dois
corpos sobre o cetim,
assim,


lânguidos depois...




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Buriti
 

Palmácea rainha da baixada do lavrado!
Umidade, lâmina d’água, águas claras,
igarapé, passadouro, pisoteio, gado,
sucuriju, solapo, fauna e flora raras!

Destarte é teu  reinado, brioso Buriti!
Águas encrespadas por ventos sibilantes
ao traspassar-te as palhas... Acima de ti,
em revoada, maracanãs nérveas, gritantes!

Pouso. Saborosos frutos, bastante festa.
Mui verde. Verdeais pássaros estridentes!
Ereto tronco, palha pouca (ausência desta), 
tronco nu, inacessível ninho. Descendentes!

Caboclos sabem teu inequívoco valor:
à fome, água, farinha e buriti nutrício; 
ao tempo, palha, cobertura, o protetor 
do sol, chuva. Cíclico início, fim, início...

Palmácea rainha da baixada do lavrado!
Umidade, lâmina d’água, águas claras,
igarapé, passadouro, pisoteio, gado,
sucuriju, solapo, fauna e flora raras!




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19 de Abril

Ó tu, irmão, que descendes dos povos primitivos
migrantes em remotas eras - com instintivos
afãs de sobrevida - a solos americanos;
granjeando-lhes planícies, encostas, altiplanos;
do norte, perpassando o pomposo Istmo Central,
adentrando à Hiléia Brasília e atingindo o final
Cone Sul, deleitando-lhes o mel continental.

Ó tu, irmão, que advéns dos, daqui, povos primeiros,
vencidos à magia dos campos roraimeiros,
habitat de mui aves, veados, onças felinas;
de igarapés com límpidas águas...cristalinas,
ricas em matrinxãs, curimatãs, jaraquis, 
ponteados por suntuosos, ímpares murutis!

Ó tu, irmão, nascediço desse rincão que tem
acolhido, com graça, respeito e sem desdém,
irmãos de outras plagas desse  Brasil-Continente, 
digo a ti, com o orgulho que meu coração sente,
com contida vaidade que à minha alma acalanta,
que, também, nasci nessa alterosa Terra Santa!

Ó vós, índias nações dessa  nação americana!
A cada índio irmão, quer macuxi, wapixana... 
Enfim, dedico o poema, em face da secular
convivência pacífica, fraterna e salutar,
que tem miscigenado nossos genes e almas,
a despeito, inclusive, da indébita omissão
dos gestores da ação indigenista da União!

Digo-te, também, que há, maioria dos brasileiros,
brancos, pardos, mestiços, negros, em verdadeiros
bolsões de inópia humana  - guetos vergonhosos,
flébeis à  mercê da abundeza dos poderosos
liberais, os quais impõem sistematicamente
ínvio estorvo ao orbe subdesenvolvido e emergente!

Afianço-te  solidariedade, varonil
irmão. Que irrompa melhor era desse 19 de abril! 
 
 



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Águas e mágoas

Águas límpidas,
prenhe da terra,
areias lavadas,
levadas em torvelim.
Assim,
fonte,
        filme
        d’água,
               igarapé,
                        rio,
                   caminho
de todas as mágoas
que vão pro mar...




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Vera

(à dep. Vera Regina, de Roraima)

Vera, é certo, é vero:
estás pós-balzaquiana,
essa fase mediana,
que é tango, é bolero.

Nela danças com esmero,
tão bela, suavemente,
tão forte, tão ausente,
com num ato derradeiro...

Vera, é certo, é vero
este desejo sincero
de enaltecer-te, Divina.

Menina, moça, mulher,
assim a vida te quer
só regiamente, Regina!




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O que sou

Sou de cada dia a rotina,
sou alma conduzida sobre pedra,
sem direito pleno ser;
sendo em cada esquina, 
o papel que assino, a flor que medra...
matéria orgânica, pó, entardecer...

Sou a mão que o terço manuseia,
sou  a arma, a fúria do profano,
sou o que cai na lama da sarjeta,
sou o filhote desmamado, sem ceia,
sou, enfim, o ser dito humano
pagão, bíblico, budista, muçulmano
criptografado e indecifrável ao exegeta! 




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Reminiscências

Boa Vista de minha infância!
Pequenina, quase ingênua:
Bate-papos na calçada,
ruas de chão, sem mendicância! 
Tardes festivas: Criançada!

Boa Vista pueril,
jocosa, pictórica.
Na Jaime Brasil,
antigo Moura bar.
Ao fundo, mesa velha
mui usada de bilhar.
Picolé de groselha!...
O causo  se comenta:
Moleque suado adentra. 
- Me dê um copo d’água.
- Não, retorque seu Moura.
Teima o vadio petiz: 
- Puxa! Senhor, diz 
a bíblia sagrada:
dá  água a quem tem sede! 
- Não água gelada!...

Boa Vista, tinhas do Tupã
macuxi, uapixana, taurepã,
doutras tantas raças, O Deus,
a dádiva matinal de teus
raios solares fulgurantes,
e de teus indomáveis ventos
a empoar rostos passantes
impondo-lhes fátuos tormentos!

Boa Vista, tinhas do Tupã
macuxi, uapixana, taurepã,
doutras tantas raças, O Deus,
a dádiva noturna de teus
luares argênteos, pachorrentos,
mas tão lascivos que enamorados 
não resistiam a atrevimentos...
 
 

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Caimbé 

Lavrados, mar verdeal!
Vislumbro-vos assim:
vossas acidez é o sal,
vossas águas, o capim... 

Lavrados baixos, encharcados:
buriti, lagoa, igarapé...
Lavrados médios, altos, molhados 
ou estiados: salve, salve, Caimbé!

Lavrados do Caimbé.
Caimbé é dos lavrados,
destes tantos predicados
o baluarte Você é!

Folhas ásperas, lixas, cunhantã,
cinzas negrejantes da panela.
Troncos flexuosos. De manhã,
lenha pro fogão, curumim atrela...

Arrulha a juriti nostalgicamente...
Desatento passante,
o caboclo languente. Indiferente
é ao Caimbé estonteante:
Simplicidade, 
verdes, qual jade,
suas folhas são.
Lembram, então, 
lixa, em aspereza.
Tronco retorcido
e cinéreo. Beleza
dos lavrados tem sido!

Tudo bucólico. Naturalmente
harmônico... Todavia, de repente, 
Upa! lá vem aquela gente
com a flâmula do progresso.
As pesquisas foram sucesso:
Arroz, milho, soja, o grão!
- Preparar a terra!
Trator, correntão!
O triste gemido,
tronco retorcido, 
e Caimbé caído!

Às expensas desse vegetal forte,
o símbolo máximo do lavrado,
inicia o pioneiro projeto Grão-Norte
a  agroindustrialização do Estado!

Malgrado centenas de hectares
de lavrados que terão de ser
semeados com grãos - pilares
de um auspicioso amanhecer -
Caimbé reinará  absoluto,
visto que o mundo está resoluto:
Todo o crescimento sustentado
atrelar-se-á à defesa ambiental!
Daí meu canto seguro e rejubilado:

Lavrados baixos, encharcados:
buriti, lagoa, igarapé...
Lavrados médios, altos, molhados 
ou estiados: salve, salve, Caimbé!



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Águas & fogo 

 

Águas do rio vejo.

Do Branco as bebeu, adeus!
Viajor em adejo.

Águas de verão.

Piabas, Caboclo, acabas!

Viver, viverão!

Fogo no lavrado.

É assim, pra florir capim.
Caimbé malogrado!


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Sampaulim

sampaulim 

sam (tio)

pau (brasil)

au-au

li (bertinagem)

m (aluf)

malufaitta

mal

ufa!

fit

ta

noves fora, Nicéia. 

lama, onomatopéia,

bem-bem-bem,

quem dá a quem,

não hesita,

a Pitta!

tic-tac, tic-tac...

benção meu palim,

Salim,

meu coração

é do Reinaldão!

 

 

 




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Chão da mata

Lá no fundo da mata,
lindeiro à vicinal,
há um casebre à clareira.
A paisagem retrata 
de maneira cabal
a essência aventureira
do homem nordestino! 

Filho do próprio destino,
fruto do sol inclemente,
da terra seca, causticada,
esse brasileiro incriado, 
por manuseio permanente
do machado, foice, enxada,
de alma tesa, é calejado!

Tosco, na faina é letrado.
Foice, enxada e machado 
conhece como ninguém
a rudez da arte. Também,
há anos, cedinho do homem, 
não bem a lua e a noite somem, 
manhãzinha, após a parva, 
com ferramentas à espádua,
embrenha-se na juquira, 
para cumprir jornada árdua!...

Por do sol... Após hora fátua,
retorno. O saco de maniva
imerge-lhe o gasto chapéu.
Na senda, cadela Biú, viva,
segue à frente. Pontas de céu,
de quando em quando, dentre frondes 
da mata. Seguem-se a clareira,
renitente juquira, grandes
troncos cinzentos (das queimadas!),
o fio de fumaça, o casebre!...

Então, dona Marianinha os recebe,
a sorrir, à janela do jirau...
A noite cobre a clareira total.
Silêncio... Vozes em serenata, 
crocitares, silêncio, coaxares... 
Oh, céu de estrelas! Ah, chão da mata!...



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Roma & G-7 & índio 

Roma de mui faces:
dor, judeus, sarracenos, 
dogmas e disfarces. 

Roma de mui olhares:
exclusão, inquisição, 
mártires, altares. 

Roma da batina:
pompa, adornos auríferos,  
império e sistina. 

Ó Roma da estola,
ó tu, que benzeste a vil espada
luso-espanhola, 
que semeou, na terra conquistada,   
dor, sangues e saques
a incas, maias, tupis... nações!
alquebrando-os aos fraques!    

Roma, que fazes tu, Roma!
não envenenes o aroma
dos lavrados roraimeiros!
que queres agora,
que interesses estrangeiros
guardas sob a batina e estola?

A história te descredencia,
nada faz crer na fantasia
que carregas no andor:
proteger o índio, ou defender
com determinação e vigor
o neocolonialismo?

Roma, que fazes tu, Roma!
não envenenes o aroma
dos lavrados roraimeiros!



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Hipocratos
 

(A 4 deputados de Roraima)

De repente, rufam os tambores!
do Olimpo, sobre nuvens negras,
quatro personagens, senhores
togados, lêem velhas regras.

Regras válidas para massa...
massa dos deuses é pizza,
tem o bom fermento, é valsa
que em cada pleito, desliza...

Eis que, então, o baluarte,
tentáculo da ferida politicalha,
diz com propriedade e arte:

Que se instaure a CPI!... Ué!
(O ator de tão escolado, falha!)
 Cadê  a matéria da Isto É?



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